ZÉ SOLDADO
ZÉ SOLDADO
Venho da terra de ninguém,
Arma às costas, zé soldado,
Sem rumo no meu destino,
Indo por aqui, ou por além
E diversas vezes parado,
Olhando a cor do sol-nado,
Como em pega de forcado...
Moinho, pano sem vento,
Armado em cata-vento,
Mó, de corrente parada,
Moleiro, mas sem farinha,
Numa terra desgraçada
De qualquer vila sem sino
E azarada sorte minha...
Soldado enviado à guerra,
Sem arma, nem munições,
Subindo o monte e a serra,
Sem nenhumas condições.
Limpo as pedras da calçada,
Num rastejar matinal,
Sou escravo durante o dia
E regresso à noite igual...
Nas algibeiras sem ter nada,
Do que alguém me vendia.
Sou cinza no meio do fogo,
Carta falsa de qualquer jogo
E inventado a uma mesa...
Partido e repartido
E muito bem dividido,
Sou mais um e sem defesa,
Na mais profunda certeza,
Chapinhando na pobreza...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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