TUAS LÁGRIMAS
TUAS LÁGRIMAS
Escorrem tuas lágrimas, sobre meu rosto,
Acariciando meus cabelos em sofreguidão,
Águas, feitas lágrimas, agora já mais frias,
Longe das tão quentes do mês de Agosto,
Cálidas, nalguma praia e areias de Verão.
Deslizam, percorrendo todo o meu corpo,
Provocante deslizar e busca do que oculto,
E ofegantes movimentos nesta penumbra
E por entre a qual me escapo, nesta noite...
Tocas a minha superfície tão suavemente,
Caindo sobre mim em teu meigo envolver,
Que me obrigas a escapadelas e sem saber
Por onde mais fugir, nestas noites geladas.
Desabas toda sobre mim, toda de uma vez,
Enquanto me ignoras... pois, nesta sombra
Caminha este teu amante e por excelência,
Que te olha ao alto, abatida e meiga delicia
Satisfazendo meus caprichos de adultério...
Olhando o fundo deste espaço, este campo
Em que me deslizo no meio da noite escura,
Sinto o teu prazer, navegando noutro meu,
Sentidos húmidos, que este tempo segura,
Fazendo reviver o tempo que se esqueceu...
E eis que paro, saboreio os teus contornos,
E passo as mãos entre os cabelos molhados,
Aperto-as, frias, entre as roupas encharcadas,
Seguindo em frente, por estradas molhadas,
Tal que a chuva não deixa de cair sobre mim,
Tantas as súplicas do céu, chorando sem fim,
Pelos pecados mortais sobre este Universo,
Tão difícil de compreender, tão controverso.
É meu esse teu pranto e tanto que o recebo,
Guardo em caixa de cetim, bem perfumada,
Nalgum espaço, deveras secreto, escondido,
Para que alguém, no paraíso que merecias,
Te possa libertar dessa dor que eu percebo
E que alguns não entendem... no seu nada,
No olvidar das culpas e do que cada um fez
Na cegueira, criando, em ti, este cemitério!...
Já tarde, irão querer tuas cicatrizes curadas,
Minha Terra e leito a sangrar de tão ferido,
Elevando as preces ao rubro de qual culto!...
Então, terão eles, num tremendo derramar,
O agro das lágrimas, quando já nada restar.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )