TANTO ME QUESTIONO...
TANTO ME QUESTIONO...
Não sei se serei poeta,
Pelos rabiscos que desenho,
Pintor de aguarelas da vida,
Maestro de muda orquestra,
Instrumento de sinfonia,
Se orgulho, sequer agonia,
Uma porta e chave-mestra,
Composição de ave que pia,
Em que próprio me desdenho,
Nalguma figura de pateta!?...
Desconheço o rio que sou,
Em meu leito de tão conciso,
Por entre margens que piso,
Tampouco o mar, ao que corro,
Se vento de tempestades,
Ou de serenas paisagens,
Feito às minhas miragens,
Nesta ânsia, em que morro,
Sem que me espere o tal Hades,
No horizonte da despedida,
Pela verdade em que me dou...
Sei-me filho de um mundo estranho,
Navegante, de velas rotas,
Soltas, combatendo as marés,
Oscilando às ondas de espuma,
Relógio de horas mortas,
Gato, desejando ser puma,
Avançando pelos próprios pés,
Num trajecto que se adia,
Força por quantos caminhos
E naquilo que me empenho...
Sou ave-marias de trindades,
Corda e badalo dos sinos
E anunciando saudades,
Verde de frondosos pinhos,
Entre os quais brincam meninos,
Por entre arbustos e espinhos!...
Sou poeira de tortuosa estrada,
Ruela escura do negro fado,
Conhecendo quem a meu lado,
Mesmo que avançando sozinhos...
Sou mundo, num mundo de nada!...
Manuel Nunes Francisco ©®
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