Nestas terras de Portugal, Há lá coisa mais bonita, Que os campos do Alentejo, Os caminhos que lá chegam, As suas trigueiras papoilas, O odor da planície E o horizonte do espaço... O calor melancólico do Verão, O silêncio do seu Inverno, Fugindo do urbano inferno, Bebendo da imensidão, Tudo no mesmo abraço, Na caminhada que se inicie, Para junto a belas moçoilas, Essas que nos aconchegam, De belos olhos, que vejo, Corpo, que de amor crepita E não conhecendo por igual!... Há lá coisa de mais beleza, Que esta gente de alma, Amantes de quanta certeza E sonhando na sua calma!...
O mundo é uma surpresa, Chave-mestra e porta fechada, Uma vida demais maltesa, Procurando tudo, no meio de nada!... Universo, pelo qual vagueamos, Procurando sonhos, em aflitos, Pelas loucuras em que nos damos E quantas vezes por mitos... Batalhas, sem planos de luta, Contra inimigos de tão amigos, Aqueles tanto filhos da puta E nos tentam pela ida aos figos... Em figueiras de fluente azedo, Podres folhas e hastes deslizantes, Por noites escuras e de medo, Em cuja vida nos são marcantes!... Surpresa, surpreendente mundo, Falso, pela tanta falsa gente, De quanto pensamento imundo, Fera, que nos morde de repente... Surpresas das surpresas, Mundo que nos deixa a pensar, Pelos trilhos das incertezas E gente de poeira, bailando no ar!...
Não sei se serei poeta, Pelos rabiscos que desenho, Pintor de aguarelas da vida, Maestro de muda orquestra, Instrumento de sinfonia, Se orgulho, sequer agonia, Uma porta e chave-mestra, Composição de ave que pia, Em que próprio me desdenho, Nalguma figura de pateta!?... Desconheço o rio que sou, Em meu leito de tão conciso, Por entre margens que piso, Tampouco o mar, ao que corro, Se vento de tempestades, Ou de serenas paisagens, Feito às minhas miragens, Nesta ânsia, em que morro, Sem que me espere o tal Hades, No horizonte da despedida, Pela verdade em que me dou... Sei-me filho de um mundo estranho, Navegante, de velas rotas, Soltas, combatendo as marés, Oscilando às ondas de espuma, Relógio de horas mortas, Gato, desejando ser puma, Avançando pelos próprios pés, Num trajecto que se adia, Força por quantos caminhos E naquilo que me empenho... Sou ave-marias de trindades, Corda e badalo dos sinos E anunciando saudades, Verde de frondosos pinhos, Entre os quais brincam meninos, Por entre arbustos e espinhos!... Sou poeira de tortuosa estrada, Ruela escura do negro fado, Conhecendo quem a meu lado, Mesmo que avançando sozinhos... Sou mundo, num mundo de nada!...