SENTAM-SE À MESA...
SENTAM-SE À MESA...
Sentam-se à mesa, os pecadores,
Num canto, no outro os oradores,
Negoceiam com os prevaricadores
E nenhum faz parte de malfeitores...
São todos deveras mais que santos,
Ostentando os mais belos mantos,
Uns já saíram, entram outros tantos,
Só saindo quando estiverem fartos...
Fazem rezas e promessas, tão rindo
E abraçam-se, enquanto vão saindo,
No prato que raparam vão cuspindo
E enquanto do trabalho vão fugindo...
Enquanto as damas se vão imiscuindo,
Tagarelam os senhores, bem ouvindo,
Pelo que nada se perde e consentindo,
Piscando o olhar a quem vai surgindo...
Porém, a madrugada está chegando,
Por lindo dia, solarengo, espreitando,
Enquanto os escravos se levantando,
Pois que o trabalho está esperando...
Partem, sem pão que haja na mesa,
Bebendo lágrimas de sal pra defesa,
Implorando que o dia seja luz acesa,
Ao que a idade não perdoa e já pesa...
Deitam-se os pecadores e cansados,
Da longa noite e tamanhos pecados,
À criadagem deixam os seus recados,
Havendo que ter sonhos abençoados...
Fazer guerras e explorar desgraçados,
Semear escravos, os tais esfomeados,
Acorrentá-los, por de tão malfadados
E nesse prazer se sentem embalados!...
Manuel Nunes Francisco ©®
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