SENTADOS, À ESPERA DA MORTE...
SENTADOS, À ESPERA DA MORTE...
Velhos, são quantos esperam a morte,
Sentados, acatando a derradeira sorte,
Sem nada mais fazerem, além de mirar,
O televisor, ou o cão e repetido ladrar!...
Idosos, são os tais que pulam e correm,
Não adormecem aos anos que morrem
E somam, pela idade, o tempo passado,
Jovens de espírito, no prazo alcançado!...
Como é possível haver quem tal espere,
A morte e, sobre a tumba, não desespere,
Afagando-a, mimando-a e olhando o lado,
Outro igual, cujo a semelhante triste fado?...
Repetem-se as mesmas conversas diárias,
O mesmo enredo das películas ordinárias,
As mesmas músicas gastas, de tão ouvidas,
Disco tocando o mesmo e faixas corroídas...
Tal como o tempo, cujo cheio de ferrugem
E sem uma solução, fria ave sem penugem,
Pele à vista, veias patentes às intempéries,
Chupadas carnes, bocas sem porte a cáries...
E tudo quanto mais, tanto esperando o dia,
Aquele anunciado, sentados e mente vadia,
Tendo esquecido o real sentido das pernas,
Feitas para marchar, ao tempo das cavernas...
Esses são velhos, por mais se digam idosos,
Na sua resiliência fúnebre e tanto ansiosos,
Que o tempo os leve, saturados no esperar
E mortos, certo antes da morte os comprar!...
Manuel Nunes Francisco ©®
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