SE AINDA ACREDITAS...
SE AINDA ACREDITAS...
Se ainda acreditas no mundo, então senta-te,
Descansa, sobre qualquer acolhedora pedra
E escuta, ao longe, o canino que ladra,
Pede perdão sobre a qual definida guerra,
Olha o Sol, o seu pôr e suave nascer,
O mar, as gaivotas no seu esvoaçar,
Aquele soberbo bater das ondas,
A espuma salgada das águas em movimento,
Os pássaros, que saltitam, pela madrugada,
No seu melódico chilreio, pelo terreiro
E que depois partem em debandada!...
Aprecia o natural das flores e o seu cheiro,
Sente o prazer das fragrâncias matinais,
Descobre novos caminhos, através do nevoeiro
E entranha-te em quantos seus mistérios,
Perdidos ao longo da história e impérios
E de toda a maldade sê o coveiro,
Sepultando quaisquer indícios de armeiro...
Vibra no olhar da distância na montanha,
Preserva tal amigo que te seja verdadeiro,
Sê fonte da mais pura alegria e tamanha,
Não tenhas vergonha de qualquer ócio,
Pois que esse deleite é teu sócio!...
Encontra, na planície, o silêncio e prazer eterno,
Sacia-te na frescura pelo tempo estival,
Vive o aconchego das primeiras chuvas outonais,
Todas as peripécias e carícias do Inverno,
A dança das folhas, pelo vento e festival,
O verde no chegar da Primavera,
O aroma do pinho, vindo do alto da serra,
Da ondulação trigal, doirado alimento,
Na lembrança dos campos e mondas,
Em quanto ainda resta para abraçar,
Neste universo em sufoco e a padecer,
Pela inevitável sorte que o espera...
Se ainda acreditas, canta, não chores, mas dança,
Luta, nalguma última esperança,
Olha em frente, segue o caminho, aguenta-te,
Explode, na combustão química do que aprendeste,
Alimentando a paz, esquecendo o que sofreste!...
Se ainda sonhas, escreve um poema,
Dilata linhas da tua garra, no teu dilema,
Voa e envolve-te no espaço celeste,
Serve-te das nuvens como almofada,
Sonha aquela felicidade que te reste
E procura quem te acompanhe de mão dada,
Escolhe a natureza como singela morada,
Preserva a presença dos animais, das plantas,
Pelo mais remoto local e tanto que sejam,
Fazendo de tais os teus altares e santas,
Cantando ao mundo essa tua desgarrada
E fazendo que tantos demais te vejam!...
Se ainda acreditas, então não esperes,
Corre e não pares, tampouco desesperes,
Tanto mais que a vida galopa, sem freio
E tu só levas o que não deixas pelo meio!...
Manuel Nunes Francisco ©®
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