ROUBEM-NOS TUDO!
ROUBEM-NOS TUDO!
Roubem-nos tudo, menos a dignidade;
Roubem-nos o que trazemos no corpo,
Deixem-nos despidos, sem nada nosso,
Levem tudo, mesmo o que não é vosso.
Roubem-nos as migalhas, em impostos,
Pois somos um povo de bem-dispostos,
Massacrados, enganados, sem maldade,
Em paz, mesmo com a cabeça no cepo...
Orquestrem o favorecer à expropriação,
Uso e abuso nos direitos de propriedade
E toquem a vossa melodia de usurpação,
Não interessa como, sem dó ou piedade.
De nada tenham medo... e roubem-nos,
Tal que somos impávidos, mas serenos!
Cortem-nos as veias e vendam a carne,
Engarrafem as nossas já pobres lágrimas
E bebam-nas, nos vossos festins e farras;
Convidem para a festa a melhor fanfarra,
... O zé-povinho paga e lança os foguetes!
Nas nossas costas, troquem de galhardetes
E nunca nos temam... já não temos garra!
Tão-pouco unhas, para coçar algum acne,
Pois que até essas nos roem para vender
E nos espremem à última gota de sangue,
Nos sugam as entranhas a seu bel-prazer,
Na faminta fera, raivosa, que nos segue.
Roubem-nos tudo do que já nada temos,
Obriguem-nos ao trabalho e sem salário,
Dia e noite, sem qualquer tipo de horário,
Sirvam-se do vosso estatuto de usurários,
Sem a mínima compaixão aos sofrimentos
Daqueles que tal exploram como escravos;
... É para isso que vos colocamos no pódio.
Deixem-nos nus, sem cêntimo na carteira,
... Deixem o pó que nos resta na algibeira!
Saboreiem o prazer de todo este meu ódio...
( Manuel Nunes Francisco ©® )