REVOLTA DE PALHAÇO
REVOLTA DE PALHAÇO
É nesta revolta que busco alimento,
Neste crescente ódio, meu cansaço,
Nesta fossa e como bomba rebento,
Farto desta mera figura de palhaço.
Triste país, enfermo e pobre na cura,
Em que seus filhos, imagens de cera,
Atulhados na merda e até à cintura,
Seguem, zombies, pra boca da fera.
Eu, arlequim, mas endiabrada figura,
Cuspo a cara de quem mais travesso,
Não quero ser pedra que a água fura,
Cagando em cima de qual arremesso.
Mas outros, os outros mais palhaços
E que fazem das mais tristes figuras,
Manhosas e articuladas marionetas,
Essas vivem de sorrisos e abraços!...
Cobras-cuspideiras, que nos iludem
E tal lançam o seu veneno de longe,
Numa tentativa em que se escapem
Ao disfarce e suas vestes de monge.
Seres rastejantes, que se profetizam,
Considerando-se donos do Universo
E nos seus sermões se ridicularizam,
Como bonifrates sem jeito confesso.
Nestes meus traços, faço jus à razão,
A quanto desprezo, nojo lhes tenho,
Como carcereiro os metia na prisão,
Tal o ódio cinzelado de onde venho...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )