PUTOS DO MUNDO
PUTOS DO MUNDO
São o outro grupo de putos,
Um outro bando de pardais...
Andam nus, ou esfarrapados,
Morrem à sede, esfomeados,
Por tais cantos, abandonados,
Sem nada terem, nem beirais...
Mastigam o que resta do nada,
Do pouco que nunca advém,
Engolem lágrimas em seco,
Diluídas no que não comem,
Dormem na poeira deixada,
Enrodilhados em farrapos,
Como filhos de ninguém
E como montes de esterco...
São filhos de negro mundo,
Enteados da sociedade
E que não os reconhece...
Enjeitados, órfãos de guerras,
Miséria de quem padece,
Na maior da ansiedade,
Pesadelos que arrefecem,
Num sono triste e profundo
E abandonados às feras,
Lançados à morte, feitos trapos,
Em lençóis de quem os esquecem...
Simples putos à luz do homem
E em óbvia escuridão total...
Sombras, que cada dia escurecem,
Nesse destino fatal,
As noites que nos adormecem...
São putos, filhos do mesmo Universo,
Que nos torturam a alma,
Neste esquecimento adverso
E enterrados, na nossa calma.
Que sejam putos, nunca lutos...
De pomares diferentes, mas frutos!...
E o que é feito de tais estatutos,
Dos homens, na sua cegueira,
Que olham, à sua maneira,
Sem verem tais desgraçados?...
Sim, são putos, conceito de astutos...
Sementes de outra sementeira,
Que não têm eira nem beira...
Crianças, de ventres inchados!
... Dormem às estrelas, ao relento,
Enroscadas no sofrimento!
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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