PUTA
PUTA
Ah, pois que chamam de puta:
a moça que ri;
que escreve poemas;
a moça que dança
solta na vida;
que, quando madura, ainda é criança.
... chamam de puta:
a moça que namora e suspira
e se entrega no amor até o último fôlego,
sofre, se desfaz e se recria;
que tem uma paciência amorosa desenfreada e irrefletida;
que ama intensa e tresloucadamente,
paixão desvairada e indecente.
... chamam de puta:
a moça que fala a verdade
nas histórias que conta,
nas canções que canta,
nos desenhos que rabisca,
nos sorrisos que esboça.
... de puta:
a moça que não abafa o seu fogo
e abençoa a libido criativa;
que não renega a sua malícia;
que sente com os pensamentos a mil
e pensa com os sobressaltos do coração.
... de puta:
a moça que vive inúmeras primeiras vezes
e doa inúmeros primeiros beijos;
que engana a morte com muitos planos de vida
e aprende novas jogadas na dança da vida;
que não teme o beijo da morte,
apenas lhe ordena que adie a visita,
porque tem muito ainda a criar na vida:
poemas para escrever,
rascunhos para esboçar,
panos para pintar,
passos novos para apresentar,
sorrisos para esculpir,
ocasiões para se maquiar,
sexo para gozar...
Debocho, com fina ironia,
da sanha venenosa dos que pouco vivem,
agradecendo aos céus:
como é bom ter nascido puta!
É alegria impiedosa e desavergonhada,
ser megera arrogante e metida!,
ser vadia descarada!
Exorto às moças bem comportadas:
escrevam poemas com as tintas da vida;
usem seus braços para dar vivas!;
escavem tesouros na terra;
façam poesias com as suas ancas!
Que a minha pouca vergonha lhes sirva de exemplo:
libertem-se de suas vergonhas,
desamarrem-se de seus medos.
Amem loucamente suas putas!
(Deise Zandoná Flores)
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Alta Sensibilidade - Poemas e Poesias