PRÍNCIPE DAS MARÉS
PRÍNCIPE DAS MARÉS
Às vezes, – quantas vezes! –, me questiono!...
Indago se não serei um príncipe das marés,
Neste todo vai e vem, batendo nas rochas,
Oscilando, trazendo e levando espuma,
Restos de tudo o que sobre as ondas sobra,
Rebocando as algas dos fundos e desfeitas?...
Interrogo-me e sem ver a luz de oriente,
Para que lado fica o nascente, ou o poente,
Nesta minha mente e cuja já dormente...
Numa confusão pelo que tanto me chamam,
Quer seja esquerdista, ora seguido de fascista,
Havendo algo e ao que nunca se questionaram,
Pois que ninguém me apontou de ilusionista!...
Pobres daqueles que assim se sentem,
Que mesmo a si próprios mentem,
Escondidos na ilusória protecção da bruma,
Sem que andem para trás, ou para a frente,
Comendo de quantas fantochas colheitas,
Porquanto de si não semeiam obra,
Sempre no labirinto do túnel e sem tochas,
Fugindo das marchas e dos pontapés,
Deixando os demais ao abandono!...
Talvez que seja um príncipe do meu vento,
Como as roseiras, sacudidas e largando pétalas,
Vindas do mais frondoso rebento
Esperando um elogio de trémulas falas...
Serei senhor das marés, amarrado ao leme,
Olhando o longínquo horizonte,
Com mãos de quem nunca treme,
Procurando firmes ancoradouros,
Descendo à terra, subindo ao monte
E num ode de meus louros!...
Descansando das lágrimas dos meus rios,
Embalado no canto de qual sereia,
Por correntes de calafrios
E acordando no chamar da dulcineia...
Numa explosão de palavras,
Das profundezas arrebatadas,
Por ti feitas de escravas
E que jamais mal soletradas!...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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