NOITE DE SILÊNCIO
NOITE DE SILÊNCIO
Soam os sinos nesta quadra... E é noite de silêncio!
... Come-se o peru, bacalhau, iguarias, chocolates,
Dão-se prendas sem limite, oiro, joias de quilates,
Trocam-se abraços aos magotes e beijos de sobra;
Tudo é magistral, num perfeito gesto de manobra...
É assim em todo o mundo, neste tempo de alegria,
Para uns existe de tudo e para outros resta agonia.
De Norte a Sul, de mansinho, cai neve, levemente,
Sobre campos luzidios e frios, na sua tranquilidade
E no tempo que dita o momento que tanto apraz...
Lá longe, mesmo muito distante desta ilusória paz,
Noutros cantos do mundo, caem bombas à calada,
Como se fossem oferendas, caindo tão de repente,
Sem perdão, ou compaixão, em suprema crueldade...
Sangram corpos em pedaços, mártires, pela estrada.
Enquanto, para uns, tocam os carrilhões da vaidade,
Para tantos outros, dobram esses sinos da verdade...
Neste trilho da abundância, esquecemos o precipício
Desenhado por tantos e macabra tela de aguarelas
Em noite de paz, nos banhos de sangue e de trevas.
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )