NESTE MEDO
NESTE MEDO
Não tenho medo do tempo,
Da chuva, mesmo do vento,
Do nevoeiro e seu cinzento,
Do frio, ou da força do calor;
Tenho medo de ti, como ser,
Que me iludes no teu saber
E me arrastas no sofrimento,
Sem ouvires o meu lamento...
Tenho medo do teu rancor!
Sinto essa hipócrita distância
Em que te patenteias na vida,
Neste mundo, que não é teu,
De altivez, na tua arrogância
Cuspindo, de soslaio, a ferida
E quem, na tua culpa, sofreu.
Tenho medo, evidente medo
E vergonha, que tu não tens...
Sinto nojo, quando me vens
Em falinhas mansas de santo,
Embrulhado num reles trapo,
Disfarçando o melhor manto
E que nunca tenhas despido...
Pouco mais és, que um sabujo,
Mais um, neste universo sujo
E agarrado a benzidas crenças,
Em que não vês as diferenças
À tua passagem no mundo...
Bebes o tal sangue de Cristo
Nalgum cálice que não deves,
Tomas a tua hóstia num misto
Do corpo de quem mais feres,
Tu, imaculado santo imundo!...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )