MORRINHA E PASSOS CALMOS
MORRINHA E PASSOS CALMOS
Chapinham os pássaros,
Coaxam a rãs,
Enquanto os corvos esvoaçam,
Num negro de cetim,
Espantados quanto a mim
E rumando a novo horizonte,
Sem que oiçam palavras vãs,
Deste transeunte do momento,
Em algo que de novidade conte,
Por algum breve pensamento,
Numa paragem de meus passos
E a qual nem sequer se esforçam...
Então sigo, entre pingos de chuva,
Aquela morrinha, molha-parvos,
Que me assenta como luva,
Mas calmante aos meus nervos...
Gente, essa nem vê-la,
Salvo nos veículos que passam,
Mortos-vivos e de pescoço erecto,
Em frente, testa inclinada ao tecto,
Adormecidos no jeito ao sustê-la,
Na suposta cabeça que encaixam...
Suave e serena, cai a morrinha,
Minha injecção de acalmia,
Que me sustenta a moleirinha,
Por toda esta melancolia...
E, um pouco além, um tareco mia,
Pelo oculto do pouco que já se lia
E eu parado, olhando ao redor,
Limpando pensamentos de dor!...
Já o crepúsculo se veste de escuro
E a luz artificial ilumina o caminho,
Já pouco se ouvindo, nalgum sussurro
E chegado o tempo de seguir sozinho...
Manuel Nunes Francisco ©®
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