MELANCOLIA, PAZ E MINHA GUERRA...
MELANCOLIA, PAZ E MINHA GUERRA...
Ah, esta melancolia que me embala,
Estas chuvas e ventos outonais,
Maravilhosas folhas e cores ocres,
Das árvores que sacodem seus ramos,
Coisas, para tanta gente, tão banais,
Que me entram no ser, como bala,
Pura anestesia para além de dores,
Película no que tão pouco somos!...
Ah, túneis de ares que me saúdam,
Sempre que passam no seu correr
E tudo fazendo para me adormecer,
Seguindo em frente, para outros lados,
Mas naquilo que me fazem esquecer,
Ou até lembrar o já pensado esquecido,
Aquele longínquo sonho prometido,
Notas de sinfonia, que me mudam,
Não o pensamento, nem o ser, mas o íntimo,
Numa renovada força e que me alimenta,
Me sossega, para mais um dia de incertezas,
Pelo horizonte e descoberta de novos fados,
Em quanto neste mundo, nas suas rudezas,
Não que este queira, mas que o homem semeia,
Esse mesmo que depois tudo lamenta,
Porém, escorrendo lágrimas de crocodilo,
No seu cantar, bem escondido, qual grilo,
Não entendendo o quanto tem de ínfimo,
Distribuindo todo o mal que tem de ideia!...
Ah, esta minha melancolia, tão peculiar
E cuja tanto, por meu olhar, me faz reflectir,
Naquele enorme desejo de partir,
Pela viagem que tanto andei a adiar
E em quanto de si comigo irá morrer!...
Soprem ventos, que eu oiça tempestades
E tais me sacudam estes pensamentos,
Águas que os lavem e tragam outros
E se tornem em alegrias os lamentos,
Enquanto cemitérios se encham de mentiras
E as lápides sejam feitas de verdades!...
Que se vejam relâmpagos de doirada luz,
Enquanto os trovões se tornem sinfonias
E se vejam asas de boa-nova,
Ao que se animem os nossos negros dias
E cujos, de tal, já são tão poucos,
Pois que tanto mais são os loucos,
Em quanto demais sua prova,
Pelas tempestades e fontes de asneiras...
Que as nuvens outonais sejam pombas,
Esvoaçando pelos mais distantes astros,
Seja por planícies, ou acentuadas lombas,
Mas nunca por túneis de em contraluz!...
Manuel Nunes Francisco ©®
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