JARDINS PROIBIDOS
JARDINS PROIBIDOS
Suspendo-me, nalguns jardins de ilusão
E num mundo que tanto me faz pensar;
Sou flor murcha, em cima de um balcão,
À espera de alguém, que a possa regar.
Sou arbusto, para outros erva daninha,
Na sequeira de terrenos abandonados,
Outras vezes em terra bem regadinha,
Aguardando sementeira e teus arados.
Sou herbácea morrendo pelos cantos,
Pendurada de qualquer muro e seca,
Espalhada à vastidão de teus campos,
Esperando uma gota de água fresca.
Refresco-me nalguns cálidos ventos,
Expondo-me nalgum Sol, em delírio,
Rodeado de pisadelas e sofrimentos,
Por paragens de loucuras e martírio.
Sou flor da serrania, recolhida por aí,
Resistência nas intempéries da vida,
Tropeçando, sem saber pelo qual caí,
Ao direito da melhor luz e merecida.
Sou a alma do monte, raiz de torgas,
Em cores de luto e demais retorcida,
A trepadeira e estendida nas corgas,
De lado à pedra e melhor protegida.
Sou o cacto, sequioso e pelo deserto
E nas mais lindas cores dos rebentos,
A sobrevivência a quem e tão perto,
Busca minha sombra e novos ventos...
Ou derradeiro dos jardins suspensos,
Florindo por este tão estéril mundo,
Os rebentos, seleccionados e tensos,
Por entre as rochas do mais imundo...
Sou a árvore, de ressequidos galhos,
Voltados ao chão, tanto esquecidos,
Bom suporte a demais espantalhos,
Tronco e banco, de jardins proibidos...
Serei a pétala de roseira magistral
E pelo meio de adversos espinhos...
Sou a mistura de cores e sem igual,
De uma raseira e soar de ancinhos.
Serei o buquê de ilustre cerimónia,
Lançado ao ar e por tal disputado,
Serei louro e ornamento de glória,
Queimado ao vento, abandonado...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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