FOLHAS QUE CAEM
FOLHAS QUE CAEM
Tombam, matizadas e frontal,
De um modo tão rico, natural,
À passagem do meu caminho;
Caem suaves e tão mansinho,
Enquanto avanço, eu, sozinho,
Caem, ébrias, como o vinho...
Tombam, soltas como a água,
Indefesas a qualquer mágoa,
Cobrindo os prantos do mundo,
No sentimento mais profundo,
De qualquer rio que desagua
Em mares que já não conhece...
Faltam os fados da Madragoa,
Todas as guitarras gemendo
Por um mundo que apodrece.
São folhas, que se desprendem
Das árvores que foram suporte
E agora, condenadas à morte,
Lentamente, tristes, desfalecem
Ao que não conhecem de fundo.
Soltam-se, envoltas num choro,
Por estes campos, onde moro...
São simples folhas que adoro
E que são meu luto, meu soro.
São folhas que tanto adorámos
E no maior desprezo pisamos...
São folhas, restos que sobram,
Coisas velhas que incomodam!
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )