FARINHA DO MESMO SACO II
FARINHA DO MESMO SACO II
... Farinha do mesmo saco,
Pão saído do mesmo forno,
Enquanto o povo come as migalhas!...
Ratazanas de qual buraco,
Em altas vidas de adorno,
Precisando de acendalhas...
Um sopro, por entre brasas,
Atiçando o lume brando,
Nas cinzas do povo que arde...
Que lhes torram as asas
E o restante corpo esperando,
Espreitando por qualquer grade!...
São farinha de seus moinhos,
Onde a mó é sempre a mesma,
Mesmo que não corram águas...
Os pobres moem sozinhos,
Calmos, em passos de lesma,
Carregando a cruz e as tábuas...
Para que registem o nome,
Entre pó e pedras soltas,
Ao que à terra sem direito...
Num seu deserto e de fome,
Cansados de tantas voltas
E cheios de dores no peito!...
Até os gatos lambem os cães,
Enquanto estes roem os ossos
E que sobram das suas vítimas...
Que morreram sem vintães,
Tropeçando nos seus passos,
Numa adega de secas vindimas!...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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