ESTES FINAIS DE INVERNO
ESTES FINAIS DE INVERNO
Embrenho-me na distância
E tanta chuva que cai, tocada,
Lavando as minhas mágoas,
Frenética melodia dançada...
Neste vento que sopra forte,
No ouvir de sons que rugem
Como feras e se confundem,
Levando-me os pensamentos
E perdidos no meio do nada...
Tantos, sem saber para onde
E outros que são sacudidos
Nesse bailar da turbulência
E arrancados à consciência...
Do que não quero pensar,
Ou tão-pouco relembrar,
Na mais ínfima obediência...
Tanto me manda a sapiência
E outro tanto a ignorância.
Observo as aves que cantam,
Num abrigo do meu quintal
E outras que fogem à morte,
Em busca de qualquer sorte
E algum refúgio do pinhal...
São estes dias que teimam
E já se despedem de mim;
Estes dias cinzentos, finais,
Deste terminal de Inverno,
Que arrefecendo o inferno
Deste mundo e sem calor,
De gente tão martirizada,
Escorraçada, amordaçada...
Que tanto de mais assim,
Pelas razões mais banais
E num sofrimento de dor.
Neste pensamento amargo,
Na vontade de outros gritos,
Sinto-me tentado ao encargo:
Juntar-me aos demais aflitos
E acordar de erróneos sonhos...
Dos sonos ácidos, medonhos,
Ou de tanta noite perdida,
Erguer, bem alto, meu punho,
Por quem de melhor merece,
Nesta força que me acontece
E tornar esta luta meu cunho.
As águas passam e correm,
Nunca sob a mesma ponte,
De tanto batem que moem
E as de hoje, mais barrentas,
Amanhã serão límpida fonte,
Fortuna de qualquer monte
E cada um de nós, de mendigo,
Crente nas palavras que digo,
Terá o seu título de conde,
Quem sabe, talvez de rei...
Assim o queiramos, tanto quanto sei.
Por cada Inverno e por mais gélido,
Por mais neve que caia no prado,
Haverá sempre uma Primavera,
Nas suas paisagens verdejantes,
Sonho dos mais loucos viajantes,
Neste perdido mundo de quimera
E em que a mais perfeita solução
Estará ao alcance de cada mão,
Mesmo que por mais cansadas,
Ou que de tão sujas e sangrentas...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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