ESTA VIAGEM
ESTA VIAGEM
Sou um cavalgante das ondas,
Gaivota num voo de alto-mar,
Um peixe de águas profundas,
Santo aos tombos de um altar.
Sou mexilhão preso às rochas,
Torturado num contínuo bater,
Nó de corda e amarras frouxas,
Pobre esfomeado, sem comer.
Sou água fria em ferro quente,
Areia solta em terras barrentas,
Um filho de quem mais se sente,
Aquela voz, quando te lamentas…
O pássaro sem penas, nem asas
E sôfrego de grandes paisagens,
Sou a lájea na melhor das casas,
Navio encalhado entre margens.
Sou quem queres que mais seja,
Muitas das vezes um teu desejo,
Faço-me cego, não que não veja
E sigo teus passos no teu cortejo.
Sou vento que sopra a teu norte,
Força constante que te empurra,
Uma amálgama de alguma sorte,
Numa voz amiga que te sussurra.
Sou eu, nesta mão cheia de nada…
Tudo!... uma vida de trapalhada;
Inquilino, numa mansão doirada;
Senhorio, de roupa esfarrapada.
E nesta lírica viagem de cruzeiro,
Sou o oceano, para meu espanto,
Não pondero contas ao dinheiro…
Sou eu, numa viagem de encanto!
Sou e numa história mal contada,
Vidas que não são o que parecem,
Uma decisão de um tudo ou nada,
... Sou sonhos que me adormecem!
( Manuel Nunes Francisco ©® )