ESFOMEADOS QUE SÃO
ESFOMEADOS QUE SÃO
Uivam os ventos, como lobos,
À solta, pelos espaços da serra,
Enquanto, no vale, certos bobos,
Não percebem o que tal encerra...
Mortos-vivos, que olham, cegos,
Sem entenderem quem lhes berra,
Obcecados, nos mais ridículos egos
E que são parte de outra guerra...
Pobres dos que mais não vêem
E outro tanto não querem crer,
Por mais conselhos que lhes dêem,
Morrendo num quanto sofrer...
Uivam os lobos, que os chamam
E, por tão famintos como eles,
Pedaços de comida reclamam,
Para que se encham tais peles...
E quão esfomeados que andam,
De mais pobres e demais que são,
Já sendo mais os que choram,
Aos que acreditam na razão...
Erguem-se as mãos ao alto,
Numa esperança de salvação,
À beira do abismo e do salto
E um aperto no coração...
Sem força, alma, qual calor,
Pelas estradas deste mundo,
Frios, pobres e sem amor,
Abandonados e bem no fundo...
Uivam os ventos, às suas dores,
Que mais não podem dar
E já se sentem rumores,
De outra guerra a começar...
E lá descem outros facínoras,
A lobos e uivos muito piores,
Dos quais fogem as víboras
E que são santos os malfeitores...
Pois que aldrabam e matam,
Sem nunca darem nas vistas
E sem pena de quem esfolam,
Mesmo dos quais são visitas...
Calam-se os ventos, já sem forças,
Recolhem-se os lobos ao covil,
Não vá o Diabo partir-lhes as norças,
Ou comer-lhes algum pernil...
Acolhem-se os miseráveis, em lágrimas,
Quedos, sem argumentos e acções,
No maior silêncio das palavras
E medo de tantos ladrões...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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