CHUVAS NO SILÊNCIO...
CHUVAS NO SILÊNCIO...
Tomo este cadeirão como recosto,
Aqui colocado, a meu soberbo gosto
E olho através da minha janela,
Tendo a noite como sentinela...
Transporto-me para além desta vidraça,
Talvez que em fuga a qual desgraça,
Idealizando a merecida vida terrena,
Longe desta luta de arena!...
Deixo-me abraçar pela natureza,
Em quanta esperança e beleza,
Por estas chuvas de Maio
E num sonho de sereno desmaio...
São chuvas caídas no silêncio,
Águas trovadas e de prenúncio,
Cujas me regam no exterior
E tanto mais sustentam o interior...
Não que hoje tenha chovido,
Mas sou poeta e desmedido,
Pelo que amanhã será o dia,
Por épico sabor de melodia...
De momento, elevo o meu olhar,
Até onde a visão se espalhar,
Como se pássaro em liberdade
E voando em sumptuosa vaidade,
Para lá desta escuridão,
Tendo pela mão a imensidão,
Sobrevoando qualquer escarpa,
Em timbres da melhor harpa,
Pela beira-mar, sobre o oceano,
Acreditando que não há engano,
Neste mundo de enganos
E por longitude de ciganos...
Errante, mas preso como rocha,
Às escuras e sem qual tocha,
Em precipícios da ilusão,
Porém, vida de afinado diapasão!...
Desta poltrona, tenho toda a miragem,
Luz cega, mas pura, a tamanha viagem,
Só me faltando a diligência
E dois dedos de inteligência...
Para entender a conversa da chuva,
Tão macia e como luva,
Que antecipo, nesta escuridão pateta,
Nesta minha loucura de poeta!...
Manuel Nunes Francisco ©®
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