BASTIDORES DE TEATRO
BASTIDORES DE TEATRO
Hoje apeteceu-me um desvario pelo teatro,
Percorrer os bastidores e farejando o oculto,
Observar toda a arte, na penumbra e perto...
Perceber aquilo que nem sequer sonhamos,
Em quanto o que fica demasiado encoberto.
Quero entender toda a técnica carnavalesca,
Aquelas máscaras e nunca vistas pelo vulto,
De tão encenadas, naquilo que observamos...
E fico deslumbrado, furibundo, estupefacto,
No que vou descobrindo, em argumentado
E soberbo, estudado texto, em pouco sacro,
Tanta alma e tão profundamente encenado,
Desde o primeiro, ao acutilante último acto,
Em controversas entradas e saídas de palco
E atónita plateia, por tal conceito empírico....
Perfeita renovação de velha cena dantesca.
Desiludido, recuso os bastidores e caminho,
Precipitando-me às escadas que daí descem,
Deixando-as para trás, na mínima saudade,
Rumando pelas ruas adjacentes e sozinho,
Reflectindo no que vi e na menor vontade
De voltar, pois tais artes não me merecem,
Tal como os actores em palco e envolventes,
De sombrias máscaras enfiadas e dementes,
Nesse disfarce genuíno, com que cresceram,
Camaleónicas figuras, pinceladas na pressa,
De mentes sem escrúpulos e reles conversa,
Que não me metendo medo, me repugnam
E para os quais necessito de deixar de olhar,
Mesmo que pela frente deste teatro passar,
Nem dar ouvidos, sempre que algum palrar
E para nunca correr o risco de os esconjurar...
Questiono se será o santo que não merece,
Ou se o palácio, no que lá dentro acontece?
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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