ARTISTAS DE PENAS
ARTISTAS DE PENAS
Correm, esvoaçam, saltam e saltitam,
Como bailarinos, em seu palco de dança,
Frenéticos, de um lado para o outro,
Alguns vindo ao meu encontro,
Contentes e aguerridos,
Pobres de quaisquer maldades,
Neste contemplar e meu troco...
Cantam, piam e chilreiam,
Mostram-se por detrás da ribalta,
Em melodias que semeiam
E que demais nos fazem falta,
Neste mundo e demais oco,
Sendo que nenhum deles é rouco,
Enquanto eu feito de louco;
Mas há outros espectadores,
Encantados nestes cantos,
Gatos, de coração aos saltos
E olhando estes amores:
Arlequins de profissão,
Saltando por entre a relva,
Que mais parece uma selva
E que tocam ao coração...
São um tanto coloridos,
Dádiva de um qualquer deus
E senhor de tamanha obra,
Que em troca nada cobram,
Deste espectáculo que obram
E que, por muito, nunca sobra.
Entregam-se às suas artes,
Numa sinfonia e sem fim,
Digna de requisitadas salas
E composta para mim...
Empoleiram-se por galhos seus,
Como se fazendo as malas...
E eis que partem os artistas,
Tais sopranos e flautistas,
Um, ou outro, mais modesto,
Sendo a nota que atesto...
E eu aqui sentado,
Um tanto, ou quanto, cansado
E pouco mais para dar,
Numa pedra do meu quintal,
Sendo poucos os que ficam,
Nesse tão majestoso voar,
Para longe da vista, muito além...
Para trás deixando saudades
E, para a frente, maior esperança,
A quem de mim e mais alguém,
Por este mundo esquisito,
Vão ficando, feitos mártires
E eles nas alturas do infinito,
Em despedido voo celestial...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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