AQUELE MENINO
AQUELE MENINO
Lembram-se do menino pé-descalço,
Que cantava pelas ruas?...
Tinha uma voz e desembaraço
E que aquecia as noites cruas!
Corria e saltava, dançava... e cantava!
Trazia um brilho nos olhos,
Das lágrimas, mas que encantava!
Eram torneiras de sonhos...
Sonhos que nunca lhe deram!
Ofereceram-lhe fome, com fartura
E foi tudo o que prometeram...
Tanta miséria, que ainda hoje dura!
Porém, esse menino já não canta,
Mas dorme à noite pelos cantos,
Enrolado numa podre manta
E sonhando outros encantos...
Os olhos vão-se fechando,
No frio da noite e do corpo,
Com as portas do Céu esperando
E cantos de outro campo...
Lembram-se?... Agora é tarde, partiu
E já não temos quem cante!...
Chamou-o quem, à morte, o pariu
E partiu tão de repente!...
O esquelético corpo lá está, no banco
E até que o venham buscar...
Pobre ser, que não é branco
E muito vai ter que esperar!...
Não o chorem, que já chegam tarde!
Recolhessem-no, em vez de esmola!
A sua voz já não arde...
Tapem-lhe os sapatos de pele como sola!...
( Manuel Nunes Francisco ©® )
( Imagem da net )
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