Fiz um acordo com o vento, De contra ele não lutar, Não desperdiçar o momento, Qual seja e qualquer lugar!... Quero aproveitar a sua aragem, Toda e diferente rajada, Pensar, em tempos de paragem E absorvendo a paisagem!... Não prestamos vassalagem, Sequer quem de nós se cale, Cada qual naquilo que vale, Mas respeitando o contrato, Nunca beijando mão dada, Nem servindo pratos de ingrato!... Sopramos, no mesmo acordo, Certas brisas de lamentos, Miscelâneas, num tom pardo, Tais pastas de sofrimentos... Porém, tudo bafejando de frente, Na mais moderada dissertação, Seja entre boa, ou ignóbil gente E ambos nunca donos da razão!... Sequer foi preciso reconhecimento, Por qualquer confirmado notário, Bastou-nos aceitar o entendimento, Pois todo o restante é imaginário... Assinámos, pelas linhas do respeito, Não semeando ventanias, Para não colher tempestades, Em sopros de vento e do meu peito, Por montes e vales de verdades, Refrescando prados em alegrias!...
Nunca é tarde, antes que se faça tarde, Tal só o será desde que se queira parar, A vida faz-se para a frente, no continuar, Alimentando o caminho que ainda arde!...
Nunca é tarde, caso assim o entendas, Tenhas garra e objectivos para ir à luta, Sem te deixares enfiar em qualquer gruta, Hibernando na escuridão e sem que a luz defendas!...
Nunca é tarde, mesmo que alguém o diga, Ou te acomodes a que o fim está perto E naquilo a que tantos chamam fadiga...
Nunca é tarde, para começar de novo, Mesmo sendo para aventuras no deserto, Pois que areia não são pedras que dêem estorvo!...
Vem, pelo silêncio da noite, Pela mais descuidada fresta, Ou por qualquer janela aberta, O pesadelo que me desperta, Abafando a força mais secreta, Nalguma cama a que pernoite!...
Vem, em atitudes de mansinho, Como se nada fosse com ele, Enleando a mais sedosa pele, Não olhando se tal corpo gele, Ou se, num ápice, o sele E num cavalgar de fininho!...
Vem, pela cintilar das estrelas, Seja debaixo de telhas, ou ao relento, Soprando de forte, como vento, Nunca de feição, nem lamento, Numa angústia, sem sentimento, Por mantas de tantas querelas!...
Vem, pé ante pé, todo meigo Sente-se completo e feliz, Sem preocupação ao que me diz, Pois tudo lhe vem de raiz, No assombro a quanto no dia fiz E nas palavras que tanto não digo!...
Vem, mas pensando em ir-se embora, Gente de outros lençóis não lhe falta E lá vai, pra outra alma em que salta, Talvez de melhor sorte noutra malta, Pois, por estas bandas a cama é alta E os meus sonhos estendem-se agora!...