Há gente que tanto corre, Em certa correria perdida, Dum sítio para outro lado, Num pouco por alcançado, Sem determinar o destino... Correm, ficando cansados, Por tais rumos escarpados E sem pararem para pensar, Ao quanto correm na vida, A meta e cuja célere morre, Nalgum trilho quão a pino!... Não vale de nada correrem, Que tal vida corre depressa, Sem que a possam alcançar, Porém, paralela a todos vós, Pela maratona a que sofrem, Ao que ninguém se confessa, Com a vida ao lado a passar... E vós, vulgares peças de mós, Correndo farelos, de moinho, Sempre rodando no cantinho!...
Nas minhas noites tardias, Prolongadas na escuridão, Tenho amor no coração, Em ideias tanto vadias, Sonhando manhãs de amor, Em dores de tanta incerteza, Por anastesia à minha dor, Esperando a mais certa certeza, Por trilhos que sei de cor!... Nestas penumbras de vida, Numa luz naquilo que for, Esqueço uma noite perdida, Tendo esperança da próxima, Naquela força, minha máxima, Aquecendo os meus lençóis, Maior calor que quantos sóis!... Adormeço em sonhos, de tais noites E na esperança que me acoites!...
Não te encontro, no que procuro, A Cultura que me é desejada, Talvez te encontre no fado, Poesia de quem se sente amado, Na escrita não tanto amada E em todo um facto demais puro!... Por mais que procure, não encontro, Toda a verdade por entre linhas, Sabendo eu que desalinhas, Em quanta minha pobre escrita, Mera, porém, um tanto erudita, Embora na imagem de qual monstro, Tal figura a qual me acusam E em quanta estupidez abusam!... Espero, um dia, te encontrar, As linhas de tal saber saborear, Porém, se assim não suceder, Morrerei, feliz, em meu saber!...
No meu campo voam pardais, Ternas fêmeas de seus machos, Saltitando de contentes, Pulando de árvore em árvore, Dos mais distantes riachos, Nos seus voos, tão ardentes, Merecidas estátuas de mármore, Nuns quais contornos carnais... Vêm poisar à minha mão, Debicando em quanto lhes dou, Agradecendo, com paixão, Esta mão, de quem sonhou, Cantarolando umas cantigas, Seus chilreares de prazer, De quais loucuras antigas E que eu tento devolver... São os desatinos, que entendo, Num tempo que vai morrendo, Que me esfregam suas penas, Num conforto imaculado, Em palcos de quantas cenas E em que fico deslumbrado... Ai, de quando não devolverem E não voltando ao meu espaço, Sem que neste corpo se esmerem, Tais carícias que lhes faço!...
Sou um rio do meu nascente, Com destino no desaguar, Percorrendo o meu caminho, Por entre margens que confio, Sempre na minha corrente, Naquele meu fiel leito, Procurando ondas do mar, Numa paixão de peito, Deslizando sempre sozinho, Ou brilhando num outro rio... Sou um rio turbulento, Fazendo tempos de pausa, Recuperando as forças, Das corridas que me causa, Ou curvas que me surjam, Descendo por cascatas, Outras vezes de gatas Em águas que me sujam, Bebedouro de corças E entregue ao momento!...
Mãe Terra, eu sei de um rio, Que de outro rio tem inveja, Das águas que esse rio tem, E tudo desse rio deseja... Nesse rio eu não confio, Na corrente que dele vem!... Ele é invejoso do mar, Querendo ter as suas águas, Essas, em cujas se há-de afogar, Num desaguar sem tréguas... Entretanto, vomita num lago, Transbordando por todo o lado, Arrasando tudo à sua volta, Em tamanha fúria à solta, Águas tais, em que não nado, Tampouco esse lago galgo, Por demais lamas que são, Paradas em tal solidão... Haja quem lhe faça crer, Que tanto não é solução E que o chamem à razão, Para que não ande a sofrer, Nessa inveja em que vive E que deixe de correr, Pois, que assim não sobrevive, No pântano em que vai morrer!... Como este, há tantos rios, Que nunca chegam a acordar, Em que as águas são fios, Naquilo que querem ser, Sempre na inveja de mais ter... E que não servem para nadar!...