Como tantos demais, um dia partirei, Farei a tal derradeira viagem, Deixarei para trás toda a gente e pertences, Aqueles que ficarão felizes pela partida, Outros que chorarão a despedida... Serei embalado entre seis tábuas, Essas, que irão abraçar minhas mágoas, Como nave espacial, ou navio de alto-mar E que, de contra, nada direi!... Para trás, será dissolvida qualquer ilusão, De tantas que me moeram o coração, Se alguma tive, no meio de tanto ódio, Em que me recusaram o pódio, Porém, entre não menos de amar... Que ninguém tenha pena de mim, Pois que só andava de passagem, Pelo que a vida é mesmo assim E não te iludas naquilo que penses, Pois já tens semelhante marcação!... Farei de tal caixote a minha gondola, Por correntes celestes e qual Veneza, Sem que leve armas, nem bandola, Pelo que a pontaria por terra deixarei, Enquanto, até lá, meus sonhos manterei, Em quanta e tamanha minha certeza... Já tenho os meus preparos, Malas prontas e sem reparos... Somente não encaixotei a desilusão!... Gostaria de partir pelo Outono, Numa manhã de nevoeiro, Chuva morna e miudinha, Só, no maior e soberbo abandono, No chiar das rodas de uma carroça, Animais, diversos, bailando à volta, Ao som de uma trompete, Pelas terras de qualquer outeiro, Aqui e além uma poça, Pela distância que a partida promete, Ventos suaves e folhas à solta E na calma que sempre foi minha!...
Não me sirvo da matemática, Nem sequer questiono, Por mais que ajude o semelhante, Pois, é de minha temática!... Interrogo-me, sempre que preciso ajuda E todos assobiam ao lado, Recusando meu triste fado, Isso, sim, tira-me o sono, Naquela vontade tão muda, De seguir em frente e errante!... Esta é a natureza do homem, Olhar para si, somente, Alheio a quantos não dormem E não conseguindo seguir em frente, Esquecer quem tanto precisa, Sendo esses que o homem pisa, Porém, recusando-se a ser calcado, Enquanto não ele o necessitado!... Ai, daquele que necessite, Por vítima da humanidade E de quem a alguém apite, Por desgraça, ou necessidade!...
Se ainda acreditas no mundo, então senta-te, Descansa, sobre qualquer acolhedora pedra E escuta, ao longe, o canino que ladra, Pede perdão sobre a qual definida guerra, Olha o Sol, o seu pôr e suave nascer, O mar, as gaivotas no seu esvoaçar, Aquele soberbo bater das ondas, A espuma salgada das águas em movimento, Os pássaros, que saltitam, pela madrugada, No seu melódico chilreio, pelo terreiro E que depois partem em debandada!... Aprecia o natural das flores e o seu cheiro, Sente o prazer das fragrâncias matinais, Descobre novos caminhos, através do nevoeiro E entranha-te em quantos seus mistérios, Perdidos ao longo da história e impérios E de toda a maldade sê o coveiro, Sepultando quaisquer indícios de armeiro... Vibra no olhar da distância na montanha, Preserva tal amigo que te seja verdadeiro, Sê fonte da mais pura alegria e tamanha, Não tenhas vergonha de qualquer ócio, Pois que esse deleite é teu sócio!... Encontra, na planície, o silêncio e prazer eterno, Sacia-te na frescura pelo tempo estival, Vive o aconchego das primeiras chuvas outonais, Todas as peripécias e carícias do Inverno, A dança das folhas, pelo vento e festival, O verde no chegar da Primavera, O aroma do pinho, vindo do alto da serra, Da ondulação trigal, doirado alimento, Na lembrança dos campos e mondas, Em quanto ainda resta para abraçar, Neste universo em sufoco e a padecer, Pela inevitável sorte que o espera... Se ainda acreditas, canta, não chores, mas dança, Luta, nalguma última esperança, Olha em frente, segue o caminho, aguenta-te, Explode, na combustão química do que aprendeste, Alimentando a paz, esquecendo o que sofreste!... Se ainda sonhas, escreve um poema, Dilata linhas da tua garra, no teu dilema, Voa e envolve-te no espaço celeste, Serve-te das nuvens como almofada, Sonha aquela felicidade que te reste E procura quem te acompanhe de mão dada, Escolhe a natureza como singela morada, Preserva a presença dos animais, das plantas, Pelo mais remoto local e tanto que sejam, Fazendo de tais os teus altares e santas, Cantando ao mundo essa tua desgarrada E fazendo que tantos demais te vejam!... Se ainda acreditas, então não esperes, Corre e não pares, tampouco desesperes, Tanto mais que a vida galopa, sem freio E tu só levas o que não deixas pelo meio!...
Eis-me aqui, cá estou, Simplesmente terceiro calhau, Em dança à volta do Sol, No meu caminho rotativo, Sem saber qual o motivo, Ora me aconchego, tal me afasto, Destemido baile do rol, Chorando momentos de pranto, Espezinhado em qualquer canto, Como se eu fosse o mau, Por quem cá me encontrou!... Porém, cá ando, envenenado, Com o decorrer um tanto gasto, Seja terra, ar, mar, sangrado, Olhando, de longe, meus irmãos, A Lua, eterna minha paixão, Tanto frio, como quente, De guerras e ódios sobrevivente, Sem que ninguém me dê as mãos, Ou que eu chame à razão... Cá estou, como berço e planeta, De uma humanidade da treta!...
Manuel, é com muito gosto que lhe endereçamos o convite para estar presente no lançamento da Antologia de Literatura Portuguesa “Fragmentos de Saudade”, na qual se encontra um trabalho literário de sua autoria.
O evento de lançamento irá realizar-se no Sábado, dia 22 de Julho, pelas 20 horas, no Lisbon Soho Club, localizado na Rua de Cascais, n.º 57, Alcântara, em Lisboa.