Tic-tac, tique-taque, Segue o relógio o seu destino, O pêndulo o seu caminho E sem voltas que o ataque, De velho, mas sempre menino, Corda cheia e de mansinho!... Quem dera, fosse toc-toque, Batidas à porta do passado, Pelo tempo, tão enganado E quanta vida a reboque!... Tic-tac, sempre sem parar, Pra frente, sem pro lado olhar, Sem qualquer pena do espaço, Esse tempo, que julgamos alcançar, Ou acreditando comprar, Perdendo a corrida que seja, Em rectas, ou esquinas a dobrar, Ofegando, no maior cansaço, Sem que surja mão para ajudar, Tampouco ao que cada qual deseja!... Tic-tac, marcham os ponteiros, Sem que se vendam a dinheiros, Ao preço que o tempo desdenha E por maior fortuna que se tenha, No tempo e por mais espeço, Pela mais pulsante primavera, Seja qual o doirado adereço E que o mesmo buraco espera!... Tique-taque, soa o toque final, Toque-toque, bate, na campa, o serviçal, Sem qualquer luz de castiçal, Ou de vela, na penumbra do banal!... Toque-toque!... Podem entrar, Que ainda sobra espaço por arrumar!...
Manuel, a Antologia "Fragmentos de Saudade" está pronta! Manuel, é com muito gosto que anunciamos que a Antologia de Literatura Portuguesa “Fragmentos de Saudade” já se encontra pronta! Esta foi a primeira vez que abordámos este tema e foi o 1.º volume desta obra. O resultado foi surpreendente e publicámos uma antologia em 2 tomos, numa obra com mais de 1.200 páginas. Entre os trabalhos literários seleccionados para esta antologia encontra-se o seu. Os 2 tomos desta obra estão divididos da seguinte forma: No 1.º encontram-se os trabalhos literários dos/as Autores/as cujo primeiro nome começa de A a J. No 2.º encontram-se os trabalhos literários dos/as Autores/as cujo primeiro nome começa de J a Z. Se tiver dúvidas sobre em qual dos volumes se encontra o seu trabalho literário, não hesite em contactar-nos. A obra já se encontra à venda na Livraria Martins, localizada na Avenida Guerra Junqueiro, nº 18, em Lisboa, bem como por e-mail. Manuel, aceite um renovado agradecimento e um grande abraço de toda a equipa da Chiado Books.
Ah, tais pobres, mas nobres poetas, Controversos e lúcidos patetas, Tanto defendendo a inocência humana, Como de contra a selvajaria desumana!... São loucos e sonhadores, Alimentando as próprias dores, Acreditando nas suas peculiares mentiras E sabendo o quanto a vida é feita de tiras!... Pedaços do que acreditam ser verdade, Morrendo pelos cantos, em ansiedade E bebendo vinagre, como se água... Tentando matar tantas suas sedes, Em lago de quantas e ácidas redes E sem que estas lhes façam trégua!...
Por favor, deixem-me beber os meus sonhos, De asas abertas, sobre a estrada, De frente ao vento, Na direcção a horizonte de encanto, Pelo qual meu ser sustento, Em prazeres tão tamanhos, Por curvas, planícies de espanto E em que o restante não é nada!... Deixem-me seguir o meu caminho, Quanto mais não seja sozinho, Respirando distâncias da viagem, As fragrâncias do envolvente, Na soberba e desenhada imagem, De quanto imagino pela frente!... Só quem tem asas sabe voar, Viver o mundo que lhe é devido, Prometido, por direito de nascença, Por serras esvoaçar, em tal sonhar, Eterno prazer desmedido E superior a qualquer crença!... Por agora, deixem-me continuar, Que o horizonte está no fim, Sem que tenham pena de mim, Pois vou, simplesmente, avançar, Nestas minhas asas de ferro, Afinadas e sem qualquer erro, Voando, rasante, sem parar, Sem planos de qualquer lugar, Somente dos meus sonhos beber E deixar todo o restante acontecer!...
Devíamos pensar, de facto, mais naquilo que é a VIDA, No geral e enquanto passageiros do tempo... A vida, é, somente, o que fizermos dela, Naquele tempo de limite, Sem que haja um segundo a perder, Pois que o comboio não pára, Nessa viagem de final E apeadeiro só de ida, Sem retaguarda, na despedida, A uma vida que foi banal, Em quantas viagens de nenhum saber, Numa aceleração de contratempo, Na mais descuidada sequela, Por ventos, campo e mares, Numa bússola de piores azares, Em tantos nortes de convite E de fronte à nossa cara!... Tal bilhete, é a factura da vida perdida, Na escuridão vagueada, Caminhos de uma extensão devastada E da viagem pouco sabida, Tarde demais por arrependida!...
Sempre que me questionam, Afirmo ser um monte de merda, Em cima de merda cagando, Por mais ideias que se ponham, Neste meu paralelo passando, Em vontades, que nem sonham E que para meu lado abonam, Sem que a minha razão se perda!... Estou saturado de heróis, Da penumbra de tantos sóis, Dos falsos exemplos que são, Seres mortos e sem caixão, Pois que o tempo o trará E na justa escolha que fará!... Até lá, não passam de bosta, Defecada ao longo da vida, Na merda em que cada qual se encosta, Até que surja a despedida!... Se se interrogam quem sou, Direi ser quem por cá andou, Que muita merda amassou, Porém, nenhuma que alguém cagou!...
Elas andam por aí, nervosas, Tantas almas desvairadas, Pelos campos e pelas ruas, Estrada a cima, passeio a baixo, Da realidade desencontradas, Algumas roendo as unhas, Umas indiciando pele e ossos, Outras de falsas fatiotas, Querendo-se mostrar mimosas, Sem saberem que andam nuas, De qual pensamento próprio, Escarnecendo qualquer passado, Abraçando um futuro inglório, Por mísero porto e de ancorado, Numa viagem cheia de fossos... E o MB já não cospe dinheiro, Sem cêntimos para o padeiro, No proveito dos agiotas, Banqueiros e outros pulhas!... E em que a fome já é tamanha, Graças aos senhores do Convento, Em lembranças de campanha E depois mudando o vento, Cantando e rindo, à fartazana, Mostrando o lado sacana, A quantos de tão subservientes E de quanta sua mente doentes, Aplaudindo festas e futebol, Mas por contas de outro rol!... Ah, agarraram-se aos dois dias, Que diziam a vida oferecer, Não vendo que eram fantasias E pelo que iriam padecer!... Pena, a que agora já é tarde, Pois, o amanhã está à porta E tudo o que era já arde, Com o fogo a entrar na horta, Não havendo água que apague, Tampouco dinheiro que pague, A fome que paira no ar E na miséria a respirar... Restando andar de baixo a cima, Buscando para a morte uma rima, Por tais mentes, que não encaixo!... É tudo uma questão de tempo, Por essa estação que se avizinha, Nesta cultura de tanto campo, Mas que não seja colheita minha!...