Viver!... O que é isso de viver!?... Adormecer e acordar, Ver o nascer e pôr-do-sol, Ter canseiras e medo de morrer, Vida traçada e elementar, Relaxada, debaixo de um lençol!?... Viver, é muito mais que isso, É usufruir de um mundo que é nosso, Num saber a razão desta passagem... Viver, é não ter receio da morte, Seguir o mais possível, nalguma sorte, Saber passar rasteiras ao destino, Que não existe, pois que tal nos é devido, Naquilo que vamos fazendo por nosso sino E, na maioria das vezes, esquecido... Viver, é contornar a fasquia, Longevidade, que demais não interessa, Por mais anos, mas adormecidos, que seja essa, Vividos na maior da tosquia!... Viver, é procurar o nosso norte, Num caminho do mais forte, É, do avanço, nunca ter medo, À volta do mais perfeito segredo, Não fazendo da vida um submisso, Naquilo a que cada nasceu esconso... Porém, viver, é confrontar os dias, Manobrar as mais astutas melancolias, Sem receio de viver, numa peculiar coragem!...
Sou um desprezível mendigo, Um palhaço, de solas rotas, Na vida um pé descalço, Às vezes sem saber o que digo, Esquecendo as minha notas, Pelas ruas do percalço!...
Acolho pássaros da rua, Gatos que me batem à porta, Oiço lamentações de pessoas, Numa confissão demais nua, Dando-lhes a alma que os conforta, Pela rotas de novas proas!...
Sou um navio sem destino, Navegando contra a maré, Procurando porto de abrigo, Sou marujo desde menino, Em viagens de marcha à ré, Em frentes do que consigo!...
Vou mendigando o caminho, Em pedras soltas da montanha, Subindo ao cume da serra E nela farei o meu ninho, Nos ramos de árvore tamanha, Dando por finda esta guerra!...