Ao olharmos, hoje, para a nossa terra com casas humildes, ruas estreitas num perímetro pouco alargado, sem habitações emblemáticas de poder e de riqueza, não antevíamos que a vila de Panoias tivesse sido, nos séculos XIII até ao XIX, local privilegiado da governança do país, palco de lutas e guerras que aqui se travaram e foram decisivas no desenho de um passado incerto, que a trouxe a um presente sem glória. José Maria Ferreira nasceu em Panoias há algumas décadas, cedo saiu como tantos de nós. Ancorado numa enorme crença da grandeza das gentes da sua terra, com (im)paciência e curiosidade imensas, investiu 16 anos do tempo livre que lhe deixava a sua profissão a consultar arquivos pelo país, onde, pacientemente, descodificou textos com linguagem nem sempre acessível, recolheu, interpretou e sistematizou informação e factos, que hoje nos permitem conhecer gente ilustre que na vila nasceu e cresceu num tempo de prosperidade. […] A edição deste livro deve constituir um orgulho para o seu autor e para os seus conterrâneos. Através dele, vamos conhecer e partilhar com os nossos descendentes a glória da vila de Panoias abandonada e desprezada por políticos e políticas há muitas décadas. A José Maria Ferreira a nossa gratidão! in prefácio de Maria Odília Martins Dionísio Baleiro
Que sejas tu a seguir a vida, Não a vida a perseguir-te... Só a morte nos persegue, Em cada esquina a ouvir-te E do inesperado saída, No mais rápido que consegue!... Há que sonhar a vida colorida, Pintando toda a base do cinzento, Na forma mais desmedida E sem contas do argumento!... Brinca, salta, ri e mesmo chora, Seguindo a emoção do momento, O frio, ou calor de cada hora E sem nunca derrapar no lamento!... Vive a vida, na eterna perseguição, Como se cada minuto o derradeiro, Na mais profunda emoção E chegando sempre primeiro!...
Cuidado, ao que hoje vai chuviscar merda... Pelo tanto meu certeiro dia de convicções!... Assim, não escrevo para certa gente lerda, Uns nascidos abortos e movidos a ilusões!... Hoje declaro-me, naquilo e que assim sou... Sem enredos, –não como vós!–, qual falso, Mas genuíno pensamento, ao que me dou, Que por ora direi, aberto e num fiel passo... Eis-me, ditado tal filho da puta, comunista E atenção, se entretanto de aponto fascista!... Mas nunca esqueçam que serei um monarca E vasculhando um tacho como reles autarca!... Confesso admirar tal referido Álvaro Cunhal, –Desculpem, pela permissão de um Salazar!–, Ou benfeitora Madre Teresa e de tanto igual E farejando alguém, cujo beba de igual azar!... Pois, –sabe-se lá!–, peneirados filhos da puta, Santificados, idolatrizados de magnificentes, Não obstante, privado à minha séria disputa E ao que vós não passais de meros pacientes!... Assim, tal sui generis doença é vírus da razão, Nunca que faça parte de tantos subservientes E cujos argumentos são de escura maquinação, Num leal apontar de acusações aos resilientes!... Disse-o, louvo Cunhal, defino Salazar, Mandela, Teresa, Guevara, Cristo, Luther King, Dalai Lama, Todos ingredientes da mesma fornalha e panela, Pretéritos, mas velas que usam da mesma chama!... Não esqueço esse Freitas do Amaral, Sá Carneiro E que se fodam quantos lhes dão uso de fascistas, Os mesmos e cujos se venderão à cor do dinheiro, Constando numa outra soberba lista de parasitas!... Ah, por tal reparo numa medíocre gente a ensaiar, Dançando o compasso de sinfonias encomendadas, Esses, picotados de papel, quando acabo de cagar, De trás para a frente e por folhas demais rasgadas!... São minhas, estas arrojadas convicções peculiares E contrariamente àqueles que nunca terão colhões, Para que se definam entre patamares e uns altares, Tanto adoçando com açúcar, ou azedo de limões!...
Gosto de ouvir os pássaros a cantar, Pegas e papagaios a palrar, Gaivotas a pipilar... Fico atento em os ver a esvoaçar!... Honro os burros, –animais!–, a zurrar, Adoro ouvir pessoas a falar, Porém, quando deveriam ficar caladas E nos vómitos de suas bacoradas!... Dignifico a estepe, ao urbano, Questiono qual altar dos religiosos, Preferindo a verdade do profano, Que seguir Testamentos oficiosos!... Idolatro os rios a serpentear, Entre rochas e planas extensões, Venero as balas a descansar, A convívio com sossegados canhões!... Entendo as vozes dos animais, Vagueando em submissa paz, Só não percebo um outro mais, Aquele, cujo não olha ao que é capaz!... Louvo a serenidade da profunda selva, Embalando toda a humanidade, Conhecendo ao que esta nos leva, Por caminhos e pontes de maldade!... Reverencio a obra do Universo, A fauna, a flora, a terra e as rochas, A chuva e o vento mais adverso... Que se apaguem luzes, em prol de tochas!... E deixem-se embalar por tamanha sinfonia, Da Natureza, em afinada orquestra de vida... Não reguem sementeiras de agonia, Pois que só alimentam a já célere despedida!...