Há quantos, demasiados e cada vez mais, Bois, sentindo-se bem, agarrados pelos cornos, De canga às costas, renunciando dizer ais, Seguindo caminhos e de pensamentos mornos...
Olham em azedume e soslaio, os demais, Não se cansando do carrego que lhes colocam, Afirmando que são os outros uns animais E lá seguem por tais trilhos em que se trocam...
Vivem nas suas ilusões e de quantos disparates, Verdades que apregoam e tanto dizem certas, Como castas e honradas putas, nos seus engates!...
Dizem-se virgens por pensamento e sendo sérias, Tomando injecções entre curvas e tantas rectas, Fazendo-se crer puras e nunca as piores galdérias!...
Ah, como concreta e certeira razão tinha Camões!... "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"... Enquanto hoje escreveria, "mudam-se os ladrões", Pois agora são doutores, em desfile de vaidades!...
Não tenhamos a menor dúvida e se tal houvesse, Com quantos banqueiros e governos, num apoio, Nada que Camões, nas escritas, tal não soubesse, Homem e alma do tempo, entre sementes e joio...
Desabrocham, tais ervas daninhas, mas protegidas, Em tempos que as vão semeando, ao melhor sabor E que nem as intempéries as conseguem vencidas!
Ah, como inteligente escrevia esse pretérito poeta!... Porém, presente nos nossos dias, em quanto clamor, Com tantos ladrões em desfile e de forma indiscreta!...
Aprontei um acordo com tamanha águia-real, Cuja me levasse nas asas, numa volta ao mundo, Querendo ver tudo aquilo que se apresenta surreal, Sobre a Terra, num quanto de erro profundo...
E ambos partimos, numa rota sem destino, Circum-navegando todo este planeta colorido, Eu, feito de louco, num sonho de menino, Embora na tarefa a que me havia comprometido...
Subimos, pairámos, picámos o voo e nada foi encontrado, De Norte a Sul, Este, Oeste e eu sem nada para entender, Ao que algo muito estranho permaneceu de errado...
E eis que a pobre me confessou tudo o que tanto sabia... O mundo agonizava e a humanidade não queria saber E já muito tarde, sem retorno, o homem para tal acordaria!...
Esta sociedade vive no conforto do comodismo, Sem preocupações de uma básica filantropia, Obcecada em todo o seu narcisismo E querendo abraçar o paraíso da utopia!...
Olham, de soslaio, os demais, mirando o umbigo, Iludindo-se, em grandes desfiles de passarela, Largando vómitos, em qual caminho que não sigo, Porém, enferma gente, escolhendo aquilo que os atropela!...
Tão-pouco acordam, espezinhados no entanto, Adorando ser reis do sereno masoquismo, Cantando e rindo, mas arrumados a um canto...
Esta gente, destruidores ao que resta da humanidade, Proclamam-se de inteligência, mas obedientes ao ilusionismo, Destruindo a sua e tantos outros, no que resta de liberdade!...