Um dia, quem sabe, ganharei penas, Com as quais inventarei minhas asas, Para subir ao alto dos telhados, Ou sobrevoar planaltos e prados... Ficarei horas, esquecidas, pelos beirais, Olhando o extenso infinito e montes tais, Vendo o pôr-do-sol, numa composição de cores E alimentando os mais loucos amores... Subirei bem alto, fazendo acrobacias, Voos picados e de aventuras, Alimentando prosas e poesias... Voarei para lá do horizonte, Aprendendo artes e desventuras E encantando as bicas de qualquer fonte...
Que sabes tu, daquilo que dizes de mim, Pois nem eu sei, onde estarei daqui a um ano, Portanto a vida é assim E nada mais sendo que gota em qualquer cano!... Que sabes tu, nas certezas a quanto afirmas, Quando, nem de ti, algo sequer sabes, Mas sendo de mim que lastimas, Sem que conheças o teu Hades... O teu Inferno, longe de qual paraíso, Mesmo nesse teu interpolado anjo, Pensamento de ínfimo siso, Tenebrosa melodia, acompanhada de banjo?!... E tanto melhor seria de trompete, Nalgum célebre toque de silêncio, Mas, a mim, o timbre não me compete E por tal me silencio, Sem te acompanhar na orquestra, Em quantos instrumentos desafinados, Ao que só sigo composição mestra E nunca notas de desvairados!... Que sabes tu, aquilo que me vai na mente E quantos chamam de loucuras, Quando canto, salto e danço, de contente, Pelas mais e minhas, perversas diabruras?!... Que sabes tu, nesse poço de incompetência, Em que te vais mergulhando, dia-a-dia, Cada hora, em raquítica inteligência E sobrando quem de ti se ria?!... Pois que, somente de ti, te rias, Enquanto, de invés, faço o mesmo, Pois teus argumentos me são agonias E não me passando de qualquer esmo!... Como tal, não opines o que não conheces E, portanto, salva a língua de veneno, Para que não morras ao que mereces E não oiças, cujo não seria de tão pequeno!...
Reúnem-se os amigos e comparsas do interesse, Assim que partes deste mundo e última viagem... E havendo quem comente tamanhas lamechices, Enquanto outros tampouco surgem ao momento... Infelizmente, deixamos de ser tal cera para vela, Deixando de dar luz e a quantos se serviram dela!... Enquanto, em vida, ninguém te dá o que mereces, São, depois de morto, quem te presta vassalagem, Ironizando as maiores patranhas e falsas idiotices, Friezas, tão indignas e de derradeiro ajuntamento, Por entre medíocres sussurros e intercaladas preces... Amigos, familiares, sem que alguém te conhecesse, Surgem agora, após deitado, todos te conheceram, Foste a melhor personagem ao de cima do mundo E não faltando quem te chore, pois te mereceram, – Assim o afirmam! – e enterraram bem ao fundo!... Como é bela a despedida, mostrando a impostura... Pois que siga o teatro e enquanto a cena perdura!... Porém, que chorem os puros e verdadeiros amigos, Quantos te abraçaram pelos mais inquietos perigos!...
Minha musa, minha ondina, qual razão, Minha fome, sede e tal força mundana, Minha sereia do mar, em rio de paixão, Meu trunfo de cartas em qual jogatana...
Minha cena, por ilustre palco de teatro, Minha alma neste norte e vida abafada, Quanto sentir, nesse corpo e meu astro, Tanta luz e por este deserto derramada...
Minha forte e terna vela, ao fundo do vão, Nalguma estrada deserta, em contramão, Pois que ando perdido e sem qual noção...
Faz-me o sinal, ao que te possa encontrar, Que o mundo foge a meus pés, em ilusão E eu sem saber qualquer forma de o parar!...
Nalgum meu ritual, assim me sentei, No fiel banco conselheiro, de jardim, Tal escolhido e para o que observei... Afoitas crianças e olhando para mim, Como se eu fosse um extraterrestre, Gente determinando certas opiniões E cada qual um mais perfeito mestre, Sobressaindo aquele que mais opina, Mas esquecendo o valor da disciplina... Todos eles tentando justificar razões!... Admiro uns jovens e raras excepções, Portanto em nada usual aos tempos, Pelo que de uns quantos desfasados... E estudo apontados idosos sabichões!... Observo e, cada vez mais, questiono, Para onde caminha este meu mundo, Aquele que conheci, a distantes eras, Não que sempre tenha sido perfeito, Em algo demais insólito e com feras, Mas tão diferente, marcante respeito, Algo perdido no tempo e já profundo... Tudo, que agora vejo, me tira o sono!... Ah, este meu fiel e banco conselheiro, É o que me resta, neste jardim inteiro!...
Águas de Maio, chuvas para que não saio!... São águas de trovoadas, de tempestades, Águas de certo arraste, nas quais não caio, Águas turvas e cujas benzem barbaridades...
São águas de desvios, que levam incautos, Traçando decididos trilhos e num destino, Aquelas que nos levam, cursos de arautos, Que nos arrastam, num silêncio tanto fino...
Deitam-nos a mão, num convite de ilusão, Como ninfas, em oferta de amor e paixão, Em correntes de desvios e seca conclusão...
E nunca passando de leitos contaminados, Entre margens de rios e nunca alcançados... Águas de Maio, que nos vendem o caixão!...
Há aqueles que parecem e não são, Aquelas que são e não parecem, Mas não façam confusão E nas ideias não se apressem!... Deixem-se de invenções que mentem, Desses pressupostos que inventam, Para que um dia não lamentem, Todo o veneno que alimentam!... Há quem tudo pareça, mas, coitados, Em quanto demonstram pouco têm E andando com os braços voltados... Com as mãos dobradas atrás das costas, Aguardando aqueles que vêm, E de igual pescada cagam postas!...