Confesso que, há muito, semelhante não fazia... Sentar-me e, decididamente, reflectir!... Há longa data que a criação não perseguia, Nesse seu caminho e sem saber por onde ir!... Confesso toda a minha triste conclusão... Que terei feito de errado, para tal falha?... Que terei que fazer, por nova decisão E de tão tardio, mas que algo mais valha!?... Olho, sentado sobre esta tão negra nuvem E já nada observando que seja encanto, Ouvindo os clamores que me chovem E por desgraças de tamanho pranto!... Peço o poder dos deuses e do Universo, Pois que meus filhos perderam a noção E, por tanta impotência, me confesso, Estando perdido e só vendo uma solução!... Os homens e filhos, matam-se mutuamente, Devastam todo o verde da sobrevivência, Envenenam as águas, cujas bebem levianamente E a tudo obedecem, pela mais louca eloquência!... Eu, Deus, Natureza e de tudo o Criador, Não importando o nome que me chamarem, Estou ferido, sangrando de tanta dor, Por quantos, em débil vontade de se amarem... Seguirei, assim, meu caminho e vosso destino, Enviarei pragas, moléstias, endemias e pandemias, Enquanto e portanto não sejam donos de tino... Confesso estar farto das vossas miseráveis manias, Sabendo que até os ateus me beberão da mão, Os crentes saberão toda a minha raiva aos pecados, Com o passar do tempo ouvirão este meu sermão E, tardiamente, entenderão todos os meus recados!...
Somos o paraíso de burros chapados, Com um chapéu de palha na cabeça, Andando, na ignorância, espantados E mestrando, sem que alguém peça!...
Gosto de saber-me entre tais sábios, De outra forma sentir-me-ia sozinho, Não querendo utilizar os meus lábios, Nem para cuspir quantos, no focinho!...
É triste, mesmo triste e tanto insólito, Toda esta sociedade de inconscientes E querendo-se passar por inteligentes...
Lançando farpas de mentes indolentes, Num rancor, a quantos não obedientes E sabendo não serem mais que vómito!...
Ser cidadão exemplar, é ser subserviente, Não resmungar, tampouco possuir ideias, Seguir a estrada do matadouro, em frente E sem o rubro do sangue a correr nas veias!... É ser como o lagarto, à espera de sol e calor E, só então, saindo do mais sombrio buraco, Sem genica e forças, ou a qual se diga valor, Pois que há tempo e acordar é ponto fraco!... Ser membro duma sociedade, é encarneirar, Pois assim nos semeia opinião um tal pastor E esse fedorento tem baralho com que jogar, Pouco importando os trunfos de tal jogador, Fazendo jogo com cartas ocultas nas mangas, Em lances de mestre e jogadas faz-de-conta, Com os demais perplexos e por quais tangas, Ao que não importa perder, seja qual monta!... Se alguma vez houve esperança de liberdade, Esqueçam, pois os mansos são em demasia!... E, assim, mesmo que a muitos doa a verdade, Sois um povo de carneiros, fazendo-me azia!...
Questiono o significado de comunismo, Inquiro um qualquer tipo de socialismo E questionando o vocábulo de fascismo, Inferindo se tudo não será um erotismo?!… Indago, quantos não terão um orgasmo, Enquanto os restantes enorme espasmo, Ou quantos não vivendo num fetichismo, Em sagradas regras de tanto ilusionismo?!… Espanto-me, caso falemos de democracia E sabendo quem, pelo mundo, a merecia!... E interrogo se não serão piores que putas, Putas, – não prostitutas! –, por certa razão, Entregando-se a sevícias, sem quais lutas?!... Pois ser prostituta é questão de profissão!... Por tais indecifráveis e absurdas questões, Contesto a sanidade de tantos charlatões, Em tamanhas aberrações de tanto artista, Pelo que me sinto feliz por ser humanista!...
Suponham que estou a dormir, Simplesmente ébrio e descontraído!... Vejo-me nas profundezas do Inferno, Com tamanha multidão à minha volta, Cada qual no olhar mais terno, Tendo Deus visitado a casa, só para mim, Pois que o Diabo anda à solta E por outros terrenos infernos... Suponham que toda essa gente conhecem E se vêem ao espelho, Imagens distorcidas e sem qualquer jeito Calmos, comungando as ideias de outrem Calados, crentes e no melhor efeito, Como se drogados e à espera do que vem, Sem fugir, bebendo do mais vil conselho, Orelhas baixas, sem saber por onde seguir, Nem onde parar e cérebro contraído!... Agora olhem para mim, – invejosos, sim! – E nesses argumentos quão pequenos, Pacatos e cujos nem o sol merecem E digam-me, pois, quem mais dorme, Eu e que durmo acordado, Ou se vocês, acordados e num juízo de fome, Adormecidos e sem atingirem nenhum lado?... Portanto, agora, suponham que acordei E calculem toda a trampa que encontrei!...
Quanto mais me a tentam tirar, mais odeio!... Odeio, quantos o tentam e comparticipam... Odeio os idiotas no seu estágio de obediência E cujos nada entendem de liberdade!... Odeio quantos a defendem, – ou dizem defender! –, Mas, nem da palavra nada percebem, Quanto mais erguerem o punho por tal E no leito da ignorância e hipocrisia tanto bebem!... São sementeiras que não semeio, Por tais terras, que num desvio me escapam, Por meus ferrugentos arados de subserviência, Abandonados e desde minha tenra mocidade, Rebeldia, que demais vezes me foi fatal, Mas imensurável orgulho por assim morrer!... Odeio quantos se calam e engolem em seco, Pois não nasci para escravo, ou pau-mandado, Pedindo perdão, se nesta presunção algo peco, Sem querer trocar este feitio por outro reles fado!...