Quero compreender as pessoas E odiá-las, sempre que necessário, Amá-las, numa imensa franqueza, Por mais que pareça minha rudeza, Recebê-las a meus braços abertos, Por pensamentos de tão concretos E nunca como referido ordinário!... Retribuir, aquando me abençoas, Multiplicar, se tal me amaldiçoas, Porém, a ninguém desejando mal, Simplesmente agradeço por igual... Quero saber que estou vivo, Neste caminho no qual sigo, Hilariante, se não me perdoas, Entendendo sempre o que digo, Amigo de quem vejo por amigo, Inimigo de quem me esquivo E naquilo em que tal consigo!... Quero amar, a quem de igual me ama, Construir o Céu, para quem me chama, O Inferno mais real a quem me odeia, Fechar-lhes a porta por quem sou, Levando-os por caminhos de areia, Por infernos que o Diabo amassou!... Quero servir quem tanto me serve, Tornar escravo quem escravo me tenta, Enervar quem demais me enerve E tentar quem de tal se apresenta!... Quero ser Deus, lendo as notas do Diabo, Enforcar os progenitores de diabruras, Cuspir os servidores de qualquer Deus, Fazer-lhes das tripas minhas frituras, Estendendo-as ao longo de reles cabo E fazendo delas sabores meus!... Quero acordar de quando acordado, Adormecer, afastado de adormecidos, Sabendo que entendem o meu recado E nunca partilhar o mundo com vencidos!... Quero construir todo o meu palco, Nele representar as minhas encenações, Cobrir o rosto do mais claro pó de talco, Para que o vento o leve nas emoções, Deixando somente as lágrimas da tristeza, Enquanto declamar sonhos de incerteza!... Quero sonhar, correr, saltitar e espicaçar, Quero odiar, quantos me criam ódio, Todos aqueles que nunca mereceram o pódio, Quero ferver de emoção e a revolta abraçar, Quero, no faticano estímulo de cada verso, Que o mundo acorde e se salve o Universo!...
Sou um lobo, num mérito de alcateia, Nada parecido com cães e de matilha, Confrontando e seguindo firme ideia, Nunca à obediência de qual pandilha!... Escolho e crio áreas do meu combate, Ouvindo e estudando ásperos ventos, Farejando o cheiro da peste, por arte, Vindouros agouros, desses momentos!... Caço sozinho e sem nunca ler cartilhas, Mas seguindo a aprendizagem da vida, Tentando ensinar por minhas partilhas... Desconfiando dos mais fáceis carreiros, Prometedores de quanta áurea partida, Por cuja escuridão surgem os matreiros!...
Puta de serra e abismo, que é sempre a descer!... Lá vou, proibido de voltar à esquerda, ou direita, Seguindo em frente, ao abismo de enlouquecer!... À esquerda só vislumbro penhascos, Enquanto à direita sequer me atrevo a espreitar!... Arbustos, escondendo malfeitores da pior seita E seus festins, em descampados e tascos E que aos mesmos caminhos vão parar!... Assim, sigo o meu olhar, À luz dos olhos, espelhos da inteligência, Que há muito perdi a inocência, Sabendo os destinos por onde andar!... O importante e mais seguro, é não cair no abismo, Travar e acelerar, descer e subir, Por estradas, sem desvios, nem secretismo, Tendo o azul como esperança, No mais inocente sonho de criança, Mas sem se deixar iludir!... Por curvas e contracurvas, Sigo, dia e noite, pelas promessas mais turvas!...
Sempre que um comboio arranca, larga saudades E deixando para trás toda uma imensidão de vida, Num seguir a novos rumos e por carris de sonhos, Tais horizontes, pelo que sejam causa conseguida, Soltando um adeus e de quem na estação lá ficou, Olhando longe, pedidos ao Céu e tristes os olhos, Lembrando tantos outros e trem que aqui passou, Nunca esquecendo esta, à busca de mais cidades!... Ah, quantos infelizes, miseráveis, já transportaste, Quantos apertos de coração, no passado, deixaste E outros regaste de sangue, aquando não trouxeste, Em promessas de um dia voltarem e não cumpriste?!... Eles partem, voltam, os dias vão partindo, as ilusões E tu, comboio, transportas milhares de recordações, Esse fado, não em malas de cartão, mas semelhante E cujo destino é ser português, tal eterno emigrante!...
Sinto-te o cheiro, o aroma na imensidão, Sinto-te a vida, em toda essa melancolia, Esses campos imensos de tão milenários, A distância dessas tuas infindas planícies, O sonho de quantos e mais belos sonhos, Perdidos por entre os meus e imaginários, Sabendo, na extensão, perder meus olhos... Perco-me, na distância dessa tua vastidão, Entregue numa qualquer tensão de agonia, Nunca me vendo afastar, se tal o pedisses E tal é esta minha paixão por ti... Alentejo! Esses pôr e nascer-do-sol, entre os cerros, Os montes, noutros montes, que só teus, As caiadas casas, as cores, a cintura delas, Aquelas, cujas e de tanto me lembrando, O ladrar longínquo de quantos os perros E dum restante, que me vai enfeitiçando, Tais tigelas e cujas designam por gamelas E sei lá que demais, por tais sonhos meus!... Essas pradarias, a savana, seja lá o que for E outros nomes tenham, mas sem o pudor, Pois que teu vernáculo é do mais merecido E, nesta loucura, me rendo, por convencido!... Cavalgo-te, sem que te veja um tal infinito, Sendo eu o cavalo, relinchando o meu grito... Sou a amada sela, num tanto cavalo de sela, Perdido, apaixonado, nessa terra de desejo, Cavalgando tua paisagem, de tamanho bela!...