Sou, simplesmente, como as andorinhas, Parto, numa configurada rota, mero destino, Prisioneiro de horizontes e loucuras minhas E em busca do mais sonhado hino... Deslizo ao sabor do mais soprado vento, Frio, quente, ou mesmo que tempestuoso, Na busca do desconhecido, fuga a qual lamento, Ou ditadas regras, por qual documento sinuoso... Bato as asas, expandidas e planando, Livre, numa soberba viagem sem fim, Bem no alto, orgulhoso e tudo olhando, Enquanto outros observam e invejosos de mim... Chilreio, faço piruetas e voos esquisitos, Rápidos e demonstrações aguerridas, Talvez que procurando ditos e mexericos E pelo meio de tantas intrigas desmedidas... Que fazer, quando tudo parece ser meu, Sabendo quantos recantos tem o mundo, Desfrutando tudo o que a Mãe Natureza me deu E brincando, num voo raso, ou profundo?!... Que culpa tenho eu, se outros não querem viver, Mesmo que saibam ter uma só vida, Esperando pela morte, à beira de enlouquecer E sem visão, mesmo pelo pôr-do-sol da partida?!... Sou, orgulhosamente, uma qualquer andorinha, Invejada, talvez que demais sozinha, Num desafio da vida e de tanto minha E sem me preocupar ao que o futuro adivinha... Portanto, vou sobrevoando os horizontes, Lutando contra todas as intempéries, Descendo aos vales e subindo sobre os montes, Rodando o meu filme, visionando as melhores séries... E olhando o Sol, deslizando ao longo dos céus, Tentando alcançar as nuvens, sejam de que cor, Sem preocupações de juízos, fazendo parte dos réus E alcançando a vida, no seu máximo esplendor!...
Dizes-me que és um santo, Pois te dás bem com toda a gente!... Errado, ao que não passas de um falso, Conspirando contra todos, Mas lambendo botas de circunstância!... Procuras, somente, os teus interesses, Nessa tamanha ingratidão, Enganando os mais inocentes E sem a menor compaixão, Armado de amigo e sem discussão, Fazendo crer o que não és, Limpando aos outros os teus pés, Numa venda de ilusão, A quantos de tão dementes, A quem vendes coração a rodos, Quase os lançando em pranto, Nessa tua astúcia, que tanto mente, Explorando a ignorância, Por crenças, – que não te confesses! –, Levando quantos ao cadafalso!... Dás-te com todos e quanto podes, Vendo aqueles que mais fodes!... Reconheço e aceito que és esperto, Mas deixa-te de baladas E de tantos contos de fadas, Pois nunca vi relâmpagos sem trovoadas, Nem degraus sem haver escadas!... À tua morte, que te pese toda a areia do deserto!...
Segue, pesaroso, esse teu caminho, Obediente, cariz baixo, mas feito macho, Subserviente e mansinho, Servindo, aos espertos, de capacho!... Segue, nessa tua sonolência, Pensando e gritando, que estás acordado, Transbordando de demência E candidato ao prémio de amado... Segue e não te desvies das pedras, Pega nelas e leva-as contigo, Entrega-as, de graça, aos adorados merdas, Porcos, nojentos e demais desígnios, quais não digo!... Olha-me, odeia-me, chama-me aquele nome, Simplesmente porque a ti sou diferente, Mas não te esqueças que és tu quem dorme, Enquanto sigo, acordado e em frente!... Segue, continua esse teu mandado destino, Temendo a morte, mas esperando-a sentado, Acreditando que és a salvação, merecendo o hino, Enquanto não passas de pau-mandado!... Metes-me escárnio, vómito e nojo, Destruidor da tua e minha liberdade, Pega nalguma arma, que tenhas num estojo E mata-te, pois que não deixas saudade!...
Sinto-me estranho pelas ruas, Quando os cães me olham e ladram, Vendo-me de açaime tão estranho!... Talvez pensem que mordi o tal cão, Aquele, cujo e de tanto falam, Ou que lhes comi a ração E sendo eu animal tamanho, Seja debaixo de Sol, ou de luas!... Ele pode andar a cagar, ou passear, Enquanto eu devo ficar em casa, Numa obediente subserviência E falta a outros de inteligência, De um escravo não passar E tendo que encolher a asa... Que o vírus, – o malvado! –, anda no ar, Mas devo abrir as janelas para arejar, Só não me podendo deslocar, Nem o mesmo ar respirar!... Quem me vê, aponta-me desconfiado, Esquece-se que trabalha a meu lado, Vai nos transportes para o trabalho, Às compras, no supermercado, De me ter encontrado nalgum fado, Numa festa de privado e... que caralho!... Assim, fico a pensar, Se o pobre animal não terá razão, Nesta merda e mundo em convulsão, Numa tal doença da cabeça, Poucos havendo que a mereça, Pois não a têm para raciocinar... Se a cortassem, ficavam curados E deixando os demais aliviados!...