Ah, esse olhar penetrante E por entre tanta gente!... Esses olhos, esse semblante E por quanto de ardente!... Ah, esse sorriso malicioso, Sempre de olhar manhoso!... Esse meigo e tão poderoso, Olhar, que me deixa ansioso... E tal me convida ao abraço, Me faz esquecer o cansaço E me conquista no espaço... Me implora ao teu regaço, Por muito que seja escaço, O tempo e o que nele faço!...
Somos um pobre rebanho, Pelo agreste da montanha, Cercados de lobos ferozes E um pastor que nada vale!... Ouve-se um uivo, tamanho, Na intenção e muita manha E só longe se ouvem vozes, Última esperança, no vale!... Os que sobrem de comidos, Irão para os pratos de certos, Ou para um talho, vendidos!... Mesmo que surjam uns cães, Tais comerão com os espertos E a que não vivem só de pães!... E pobres dos tenros cordeiros, No igual caminho que levam, Calmos e nunca desordeiros... Serão, na mesma, tosquiados, No redil, pois nada enxergam, Para aquilo a que são levados!... E lá vamos, seguindo o pastor, Com tantas feras por tal pasto E tanto nos conhecem de cor... Caladinhos, de tão mansinho, Enquanto já levados de rasto, Pelo cachaço e bem tenrinho!...