Deitados, longe de tudo, Em cama do Paraíso, Onde o silêncio é mais mudo, Iremos perder o pouco siso... Nuns momentos mais sábios, Pra num futuro não esquecer, Travemos uma luta de lábios E deixa que seja eu a vencer... Deixa-me surpreender, Sendo fonte de quimeras, Numa bica sempre a verter... Saciemos esta nossa sede, Feitos duas perfeitas feras, Na savana que tal nos pede...
Não tenho pena daquilo que fiz, Mas tanta do que não consegui... Sem arrependimento ao que disse, Antes e simplesmente o contrário!... Sem qualquer pena do passado, Mas pena de não ir além do futuro... Pena de não ter tido melhores asas, Mesmo que certa gente se risse E nas lindas cores de mariposas!... Pena de não ouvir o que alguém diz, Mas orgulho no pouco que ergui, Não me ter escondido num armário, No decorrer da vida, desenrascado E nunca ter parado frente ao muro!... De pouco, ou nada, tenho pena, Salvo nunca ter gritado mais alto, Ter sido glorioso gladiador de arena, Num melhor sabor do rescaldo... Pena de nunca ter feito melhor salto, Nesta corrida de célere saldo!... Tenho pena de pena não ter tido, Daqueles que nunca pena mereceram... Sequer pena a não me terem dobrado E qualquer que o cenário tenha sido, Naquilo que tanto me espremeram E altivez de quem nunca enxovalhado!... Tenho pena, no meio de tantas penas, Que por entre tanta arrogante acidez, Tais ácidos me sejam aromas a açucenas, Na minha pena... e essa falta de lucidez!...
Acalmaram-se as tempestades E sossegaram os ventos... Os abutres voltaram às herdades E calaram-se quaisquer lamentos! Os campos deixaram-se do que eram, Passos por trilhos esquecidos, Memórias daquilo que deram E pelo tempo adormecidos... No mar, os barcos voltaram ao cais, Procurando ancoradouros, Esquecendo-se uns quantos ais, Em esperanças de novos louros!... E já não labutam as campesinas, Trabalhando de sol a sol, O mesmo sendo com as varinas, Naquilo que vendiam de rol... Tudo passou e nalguma esperança, Já não se monda pela campina, Nalgum folgo de bonança E sendo ver quem mais opina! Mudaram-se os tempos e a vontade, Por muito estranho que seja, Apontam-se dedos à liberdade, Com o olho que não pestaneja... De um outro, já nascido cego E, por conseguinte, nunca viu, Mas vivendo no maior ego, Daquilo que nunca se serviu!... Entretanto fazem-se as malas, Dos senhores de tão boa sina, A quem os servem metem-se palas, Ou mandam-se à onda assassina!... E bons ventos os levam a terra, Às suas melhores sementeiras E já novos lobos descem da serra, Para se encherem e sem maneiras... Porém dos mesmos, – dos cordeiros! –, Enquanto os cães esfregam as patas, Não querendo ser desordeiros, Com quem os puseram de gatas!... Sossegam-se as ventanias, Chegou a hora de acomodar, Mas vindo um frio das serranias E ninguém ousa acordar!...
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Sei onde estou, Sem saber por onde andarei, Caminharei na direcção do vento E para onde este me levar!... Desbravarei, – ainda! –, terrenos, Seguirei as margens de rios, Que atravessarei sobre gelo E atingindo os seus nascentes!... Seguirei a sorte de quem sou, Procurando o que nunca encontrei, Comendo pedras por sustento E ouvirei ventos amenos!... Serão, – eles!, – meus confidentes, Minhas forças de aventura, Escopros em pedra dura E montanhas nalgum degelo!... Sobreviverei na imensa poeira, Dos trilhos mais diversos, Por quantos montes adversos E vendo o Sol pela peneira!... Mas não perdido na ilusão, Nem dando o braço a torcer, Seguindo a minha direcção E com as pernas a tremer!... Olharei a beleza dos lírios, Semeados num qualquer jardim, Todos plantados para mim E em cores de encantar!... Sei, – ai, se sei! – tal ponto de encontro, Em que nada esconderei, Sabendo o destino que levo E da bagagem que trouxe!... Seguirei todos os pontos cardeais, O chilrear de quantos pardais, O sublime voar das andorinhas E do mundo sendo servo!... Montarei nas costas de um monstro, Que para todo o lado levarei, Contando-lhe tantas estórias minhas E sem medo, o qual me afrouxe!... Subirei ao cume das montanhas, Gritando aos quatro cantos, Libertando quantos os meus prantos E fugindo de tamanhas artimanhas!... Irei para todo o lado, Pelos passadiços mais sinuosos, Mesmo que sem forças e de cajado E nunca, – mas nunca! –, por juízos tortuosos!... Navegarei por águas profundas e turvas, Carregando o peixe que a Besta pescou, Descobrirei novas ilhas por encontrar E as suas doiradas areias percorrerei!... Farei das rectas as minhas curvas Comendo o pão que o Diabo amassou, Mas que nunca ninguém me tente dobrar E sendo certo que por aí nunca irei!...