Arrasta-se a sociedade, pesadamente, Pelas ruas do desconforto e amargura, Botas pesadas e ao longo do caminho, Por querelas e emoções de longa dura... Trilhos escorregadios e nalgum repente, Longe de sabores, ou qualquer carinho. Pesarosamente, vão remoendo na vida, Iludidos na esperança do não alcançável, Sonhadores, audazes, em tal desmedida, Por ruas, ruelas, na escuridão deplorável... Anciãos, jovens e seja de qualquer etnia, Pretos, brancos, cultos e menos letrados, Pobres, ricos e sendo estes mais iludidos, Pois que os miseráveis já não se perdem, Pelos hábitos da história em que servem, Sobreviventes, seja pela força, ou mania. Rasgam-se sorrisos, num espaço da boca, Lado a lado e na maior de tais falsidades, Em que tudo o demais em nada nos toca, Cantando, bailando, em nossas vaidades... Somos nós, tais severos seres de orgulho E ditosos no dito, em mentira camuflada, Rastejantes, por falsa verdade encenada, Pensando em nós, a recheado bandulho!... Arrastam-se e arrastam demais com eles, Arrasam, quem quer que seja à sua volta E, por interesses, não deixam ponta solta, Pois que todo o mundo terá de ser deles... Somos nós, vós, eles e em tantos tempos, Olvidando as conjugações verbais divinas, Na escrita de poeta maldito e nos campos E em cujos se estendem as gentes e sinas...
A minha alma é crítica de consciência, Pensamento de um tanto insinuante, A quantos juízos próprios em falência E de uma persistente força relevante...
É navegar por águas desconhecidas, Procurando leituras nas suas ondas, Remando contra as marés oferecidas E seguindo rumos de minhas mondas...
É desbravar matos e mentes inóspitas, Naturezas e que tudo demais poluído, Nos mais castelos e terras de térmitas...
Minha alma é entrar, em noites de luar, Por campas de destino não conseguido, Escavar fundo, a que algo possa mudar!...
Descalça e formosa, Caminha ao longo da areia, Sempre na sua pose glamorosa, Soltos cabelos e que as mãos penteia, Vestida com a mais perfeita pele, Suave e doce, fragrância de açucenas, Macia como mel, odor que tanto apele, Pelas tardes cálidas, ou manhãs amenas... Salta, na formosura, ri e dança, Como se deusa, louca e libertina, Nada havendo que não convença, Neste chamamento e raiar da matina. Olhos cor de encanto do Universo, Sedutores e repletos de liderança, Falando, naquele desejo confesso, Intenso e irresistível perseverança ... E o mote, nesse sussurro de ondina, Braços abertos, como se beija-flor, Abraçando os néctares, onda vespertina, Sedenta de beijos e rendida ao amor!... Rastos deambulantes e de mensagens, Na distância do areal, enquanto serpenteia, Confissões, por essa praia de imagens, Em que tal corpo devaneia... Corpo, pelas ondas enrolado, Onde a terra e o mar são encontrados, Nas dunas, em que se entrega ao pecado, Sem pecados, de dois corpos e amados! Mais que sinuosos são os desejos, Na volúpia desenfreada dos momentos, Perdidos, por movimentos e beijos, Enquanto as ondas presenteiam em rebentos!... Pipilam as gaivotas e constante dança, à volta, Querendo-lhes oferendar o horizonte, Pelo que outras serão honra de escolta E a que nada se saiba, ou sequer se conte... Formosa e descalça, pela margem, Vai sedutora, convite de prazeres, Rainha e vénus, buscando vassalagem, Ela, que é Vénus, ninfa e musa dos olhares... Sereia das areias, no mais extenso dos mares, Obra celestial, quimera de muitos seres, Palato de afrodisíacos paladares... Estende-te no areal e deseja-me no que queres!...
Pois que sejas o mais devasso corno E sem necessidade de uma relação, Mas que a culpa te sirva de adorno, Por quem te trai, se lhes dás razão!...
E mais corno serás, se outro tanto aceitares, No teu calmo seguir, nessa subserviência, Adorando quem te corno faz, sem protestares, Sem estrebuchares, em tão nula resistência!...
Encornado e assim te sentes na maravilha, Nessa puta de vida e feita tua filha, Pois que alguém a pariu, sem saber o pai...
Que assim continues, por peculiar prazer, Nesse enfeite, sem estímulo ao que fazer, Mas não te queixes, se adoras quem te trai!...
Dei-me, na razão mais ingénua, Entreguei-me, por aventura, De uma forma um tanto nua, Ou mesmo demais madura... Dei-me ao improviso, No pretérito e perfeito, Naquilo que era preciso, No imperfeito do pretérito... Entreguei-me sem preconceitos, Como criança sem pecados, Deixei-me ir nos conceitos E sem ouvir quaisquer recados... Dei-me e aqui me têm, Não criança, mas adulto, Recebendo os que a mim vêm, Por causas e não por culto... Sou eu e não pastor, Sem pretensões de rebanho, Piso o meu palco de actor E de argumento tamanho... Afastem-se os bem-parecidos, Rasgados sorrisos que mentem, Tais de mim não são merecidos, Idealizando eu o que sentem... Dei-me, a quem meu espectador, Entreguei-me, não dando bilhetes, Tragam-me paz, na minha dor, Mas nunca sejam marionetes!...