Demonstra, a gaivota, as asas, Numa tentativa de voo raso, Trazendo paz e conforto, Resposta ao que a levou E aquando um dia partiu... Deixou saudades nas areias rasas, Enquanto nos corredores do espaço E nunca o mundo confundiu, Com a esperança que deixou... Seus ossos tornaram-se em aço, Debatendo qualquer confronto, Desde o nascer, ao onírico ocaso, Do Sol que a iluminou E enquanto horizontes sondou... Hoje, mais astuta e prendada, Em aulas de alto-mar formada, Sobrevoa os velhos mares, Querendo alcançar as praias, Que dantes foram seus ares E com as marés por fronteiras... Estende as asas, tal gaivota, Por qual voo de equilíbrio, Tanto agora que está pronta, A explicar qualquer martírio... Partiu, nas maiores esperanças, Voltando com tantas lembranças!... Talvez como a Nau Catrineta, Sempre em muito para contar, Havendo que apontar à caneta, Para mais tarde recordar!... Bate suas asas e tão contente, Por a qual falésia regressar, Que não há vento que lamente Quaisquer sons de um pipilar... Oscila e pára as asas... tão suavemente, Que o meu olhar se forma ausente!...
Fazem-se ao caminho, por atalhos, No escuro de noites planeadas, Dissimulados, de soberbos agasalhos, Para os assaltos das madrugadas... Não que queiram assaltar bancos, Desnatando quaisquer contas, Mas atacando, sempre em bandos, As poupanças de poucas montas... Aqueles números de uns trocados, De quem conseguidos com suores E porquanto se sentem enganados, Sem que alguém faça rumores... É um secreto sistema protegido, De banqueiros, políticos e outros, Assaltando quem desprotegido E trabalhando feitos de mouros... Lançam-se em bandos, como corvos, Aves de rapina, procurando vítimas, Os depositantes e humildes servos, A quem as leis são sempre mínimas... Reúnem-se, noite fora, tais chacais E delineando os seus ataques, Reunidos com os lobos e demais E vivendo de descobertos saques... Atacam de rajada, os salteadores E a pobre sociedade é armadilha, Prisioneiros de quantas dores, Sustento de tal e vil pandilha!...
Olho o elevar do céu e vejo negros pássaros a voar, Para baixo e para cima, escolhendo onde poisar, Palreando nas suas línguas e anunciando falsidades, Sendo haver quem os oiça, prisioneiros de ansiedades... Vestem cores de cangalheiros e outros que lhes são iguais, Nada de roxos, verdes, vermelhos, ou tais cores celestiais, Todas elas de esperança e mudança às cores do inferno, Pois que até os dias quentes de Verão parecem Inverno... Volto a olhar e desta feita noutras direcções, Sigo os voos, os chilreios e quais gritos de aflições, Mas nada me parece ter mudado, num tanto igual E olho o chão de terra batida, numa poeira infernal... Já não se avistam rochas e que moldaram este universo E algumas das que surgem são desviadas no inverso, Construindo muros e palacetes, das altezas e realezas, Enquanto a existência de quantas injustiças e fortalezas... Fixo o meu olhar ao alto, numa terrível vontade de gritar, Fervem-me os punhos, naquele firme arbítrio de socar, Fervilha-me o sangue, como se jorrado numa fogueira E chamando todos os nomes a certos e à minha maneira... Olho ao longe, bem longínquo, ao fundo da paisagem, Questionando por onde andam tais gentes de coragem, Aquelas que foram rochedos, argamassa destas terras, Por estes nas areias e esquecendo que existem serras!... Levanto-me e sigo, tropeçando, vendo perto o precipício, Reflectindo na nossa história, em qual e pujante início, Dando-me gana de chorar, ou pelas escarpas me atirar, Pois de fronte vejo o fosso e que ninguém ousa encerrar!...