Limpam-se quantos rostos, Disfarçando-se as lágrimas, Enquanto se ouvem estrondos E se rebentam as almas!... Festejam-se mais uns milhões, Em regalados e faustosos banquetes, Contam-se os muitos cifrões, Acompanhados de trompetes... Riem-se uns quantos odres, Fazendo danças desencontradas, Nunca pensando nos podres E das bombas demais lançadas!... Lançam galhofas de escárnio, Enquanto comentam o vulgo E é sempre assim, no diário, Não sendo eu que tal julgo; Sabe-se o cair de nova bomba, Bem longe dos seus palacetes, Onde segue a festa de arromba, Com trompas e quantos foguetes... E chafurdam, comem que nem javardos, Limpam as beiças uns nos outros, Trocando de chaves e tão bêbados, Misturando-se por entre quartos, Rindo, disfarçando algum grunhir, Por tais porcos que tanto são E é vê-los, dias que se hão-de seguir, Discursar em promessas de ilusão... E chamando-nos de asnos chapados, Naquilo que tão merecemos, Gostando de ser enganados, Dando o rabo e na mão que lambemos!... Os estampidos, esses, continuam, Das bombas que vão rebentando E os dias passam, mas não mudam... Os festins seguem, na dor de quem vai morrendo!...
Deus da promessa, Diabo deste inferno E cujos achincalharam nossas bandas, Observem estes fantasmas da noite, Acelerados zombies e tresmalhados, Procurando, no vazio, qual alimento, Algum calor quente do ser humano... Olham, enquanto passamos, desconfiados, Como se prontos ao mais célere ataque –E salve-se quem puder, é o desenrasque!–, Andam à solta, qual noite de finados E chamando-nos de mano... O corpo reclama-lhes algum sustento, Havendo um, por outro, mais afoite E que nos aponta de sacanas, Talvez culpando-nos dos seus fados, À morte, no frio de um severo Inverno... São esqueletos, de nojento abandono, Obra maquiavélica da sociedade, Em que cada um do nós é dono, Destas míseras figuras nocturnas, Produto da nossa maldade, A quem chamamos de importunas E vindas ao mundo por infortunas... Vadios e sem tecto, almas soturnas! São transeuntes, quantas noites afora... E tem cuidado, não olhes pro que és agora!... Hoje serás, ingloriamente, o suposto maior... Amanhã e quem sabe, comungando tal dor!
Neste ano, recém-nado, quero renunciar... Sofrer, ao lado de quantos semelhantes, Renunciar a quantas hipocrisias, Saborear o amargo de tantas agonias, Quero ser perdoado e condenar Quantos não passam de mutantes!... Quero afastar-me de ignorantes, Gente que anda no mundo e por andar, Sempre de ideias vacilantes, Ao volante de quem as comandar!... Este ano quero nascer de novo, Ensinar o que tudo tenho aprendido, Sacudir, acordar este adormecido povo, Por tudo o que tem sido fodido!... Este ano e mais um, de confrontos, Quero entender ao que ando, Não fazer parte de outros tontos, Não embarcar em quantos contos, Renunciar a qualquer mando, De políticos e seus corruptos adjuntos!... Quero seguir as estrelas, o Universo, Concreto e absoluto, Afastar-me de toda a trampa deste mundo, Beber ideias férteis do cosmos, Que por este lado tudo é perverso, Vestido do mais negro luto, Pelo pensamento mais infecundo, Provando o quanto egoístas somos!... Quero, finalmente, acordar, Bocejar e, ao que me rodeia, olhar, De espada em riste avançar, Limpar o meu cu a quem me tentar cagar, Partir para viagens que nunca ousei, Seguindo caminhos que tanto sonhei... Quero sentar-me ao teu lado, Ser simples, mas de meu agrado!