Ai, esta consciência erudita, Esta necessidade de pensar, Esta vontade de me sentar, Sem antes elevar a tampa da sanita E nesta vontade de desabafar, Melhor dizendo... de descarregar! Libertar-me dos fantasmas que tenho, Rebuscados no dia-a-dia, que vejo E que não consigo ignorar, Contrário ao meu desejo, Pelo meio de algum desdenho, À minha forma de censurar... De lutar, esgravatar em tanta merda, Que já as unhas me são gastas, No meio de tanta chafurda, Por entre sociedades castas. Ai, esta consciência maldita, Voz da agonia e vontade de gritar, Por quanta palavra não dita E que não me quer abandonar!...
Sou, um tanto, como os gatos, Agradecido e brincalhão, Mostrando as garras de fora, Sempre que haja razão. Ora meigo, quer seja azedo, Com alturas de partir pratos E momentos de ir embora, Pouco, ou nada, me mete medo E sempre que chegar a hora... Como é o caso de agora! Contorno, passando por tudo, Por portas e por postigos, Um tanto ou quanto sortudo, Nas alturas de piores perigos. Sou macio, mas sem pelo, Com uma pele de carapaça E, sempre que haja atropelo, Não me obriguem ao que faça... Sou como os gatos, sei que sou, Amigo de quem estende a mão, Dou demais, a quem me dou E sem olhar se me dão! Como os gatos, lambo as feridas, Escondido, sempre que tal E esqueço-me de tantas vidas, Entregando-me a esta normal... Sou e simplesmente, um gato, Procurando a independência, Que do mundo estou eu farto E sem qualquer paciência! Sou gato e fera, se necessário, Bicho do mato e isolado, Entregando-me ao meu rosário, Farejando por todo o lado... E até já sei ronronar, Fazer roscas, num agrado, Aprendi o que é sonhar, Em liberdade, por um prado!