Ai, quanta fonte de vida E para outros a mortalha, Torturada em desmedida E sem nada que lhe valha!... H2O e pelo baptismo água, Berço de qualquer ser vivo, Leito de rio e que desagua, Por mares e de mais activo. És a fronteira e os conflitos, De nações e quanta história, Promessas, aos mais aflitos E pecadores sem memória. És água, nome de lágrimas, A frescura que lava o rosto, Essência de quantas almas, Brotada nalgum desgosto. Palco de um teatro campal, Mão dada de quanta dança, Chuva, em dádiva celestial, Sonho, por qual lembrança. Lençol, a estendidas ondas, Fazendo de coberta ao mar, Carpete do local que rondas E num sal que te vem beijar. Água, tão destruidora força E que nos pareces tão frágil, Tens a beleza de uma corça, Nalguma corrente mais ágil. Moldas terra, temperas aço, Apagas chamas da desgraça E lavas campos, esse regaço, Sem que haja uma mudança... Deixam-te escoar na sarjeta E sem qual dó, nem piedade, Ou morres seca, numa valeta, Sem que te oiçam a verdade... E choras, em pena do mundo, Remoendo no que te fazem, Esquecendo que um segundo, É o que nos resta de margem!...
Sinceramente, odeio políticos!... Odeio toda essa nojenta irmandade, Distribuída aos mais diversos partidos. Odeio quantos a tais se vendem, Que os acarinham e idolatram, Como se clubes de futebol... Odeio quantos se dobram às religiões, Adormecidos aos mais cínicos oradores, Curandeiros, vigaristas, charlatões, Bedelheiros de conspiração, Que, na sua ideologia, tudo cospem, Em prol de uma seita de aldrabões... Intrujas, constantes de um enorme rol E que em vergonha não se perdem, Sem qualquer tipo de valores E que semelhantes os defendem, Ao que a faca nos espetam, ou maltratam E que por nós tomam decisões. Odeio toda a circundante escumalha, Que se afastam de nós, bem divididos, Por quantos números de matemática... Odeio quantos protestam a contestação, Seja qual for, tanto mais a ambiental, Negando a alteração climática, Em promessas que tudo está normal, Pois que os interesses são chorudos, Em contas ocultas de tantos cornudos!... Odeio quem não quer estender a mão, Ao seu semelhante, familiar e amigo, Nem reconhece o porquê de ser mendigo. Odeio este mundo tão cabrão, Em que já não existe vergonha, verdade, Em que os pobres lambem os ricos E todos chafurdando na mesma lama, Em que já não há luz, nem chama, Neste Universo, que demais tresanda E em que o mais corrupto tanto manda!... Odeio os falsos discursos de feiras E todos aqueles que os apoiam, A maioria sem eiras, nem beiras, Mas que tais porcos vangloriam, De boa vontade os criam e engordam, Mas que de tal carne nunca comem, Por muitos ossos que roam... E eles grunhem, enquanto outros dormem! Odeio quem afirma que me odeia, Só porque não durmo na chafurdice, Que o vosso pente não me penteia E que não como da mesma palha, Tão-pouco bebendo de tal imundice!...
No baloiçar do vento, Encalho nos braços do argumento, Tropeço nos degraus do sofrimento E amarrado ao cais do esquecimento... Sigo nas rajadas mais dispersas, Sacudindo as árvores mais indefesas, Levantando cinzas e chamas acesas, Areias viajantes e maltesas, Mas como parte de tal rajada, Sem destino e demais acelerada, Levantando poeiras de qual estrada E forçando pássaros em debandada... Baloiço, em movimentos desenfreados, Por lugares e mundos castrados, Em revolta e na voz dos desgraçados, Que morrem à fome e sem telhados. No baloiçar do vento, como barco a afundar, Navego, na esperança de algo mudar E que a qualquer porto venha a dar, Em rumo do que o vento norte mandar... E quando meus ventos encontrar, De tais rajadas, pararei de procurar, Nada mais querendo, que simplesmente palrar E escutar, no baloiçar dos ventos a soprar.