Este povo, monta cavalos que não conhece, Mas tampouco merecendo um burro, Por caminhos que tanto merece E pelas mais horas de escuro, Comentando num sussurro E à espera de bater num muro... Cai, levanta-se e, nas piores palavras, pragueja, Vive num lamento de conformismo, À espera que o sirvam de bandeja E por esperanças de ilusionismo. Não acorda e, quando tal, deita-se aos berros, Em tremendas convulsões profundas, Galgando vales e cerros, Feitos de bestas, por terras moribundas, Deitando culpas aos demais E implorando soluções divinais... Povo, que já lavaste no rio, Pregando os pregos do teu caixão, Mas que não largas o doentio, Nem acordas para a razão... Deixa-te desses teus lamentos, De sustentar quem te não dá pão, Cospe quem só te dá tormentos E levanta-lhes a tua mão... Lavra a terra com o teu arado, Cavalga esse teu cavalo alado E deixa-te de perseguir bestas, Que delas estamos cansados, Como de ferroadas de vespas, Mordidos e escoicinhados!... Levanta-te e segue o teu caminho, Que mereces melhor destino, Que servires na escuridão E, mesmo que seja de mansinho, Segue os teus sonhos de menino E nunca os de um charlatão...
Levanta-se a poeira do tempo, Palhas, restos levados pelo vento, Tentando arrastar-me deste assento E bem polido, por passatempo... Ficam as pedras e areias da vida, Tudo o que o tempo não arrasta, Destinos sem despedida, Numa vontade de dizer: basta! ... Levantam-se as tempestades, Nuas e cruas, demais cinzentas, Nuvens de quantas e brancas verdades, Claro vaticínio de novas tormentas... E a poeira ainda dança no adro, Varrendo tudo, para nova dança, Prenúncio de um pior quadro E que irá ficar na lembrança!... Por entre trovões e relâmpagos, Anunciam-se forças de granizo, Pelo que muitos ficarão gagos, Naquilo que de pior profetizo... Mas dancem, ao sabor da poeira, Pois que a vida são dois dias, Enganem-se, nessa bebedeira E bem distantes de melancolias... Mas que tal ressaca seja breve, Que a tempestade não espera, Havendo quem do ócio se serve E não são poucos... quem nos dera!
Desta ponte, de madeira, olho o mar, As ondas que tropeçam no areal, As gaivotas que se atrapalham E o céu, que transpira sobre as rochas. Desta ponte, observo o que não vejo, Ao longe, em qual e tamanho desejo... Sinto aqueles marinheiros, naufragados, Que ainda tentam sobreviver a tempestades, Que gritam por socorro, ouvindo-se um rezar, Por derradeira clemência celestial... Sobre tal madeira, caiem águas de passados E que ao mar se espalham, Enquanto, nalgum sofrer, tantas horas, Não enfrentas percorrer esta visão E mesmo sem que procures a razão. Desta ponte, de tão percorrida madeira, Procuro entender qual melhor maneira, De atravessar o mar, calcando as águas E, em alto-mar, lavar quantas mágoas, Em cantos de sereias, rodeado de ilhas E saber que as ondas são minhas filhas...
Se sou, não pareço e, se pareço, não sou... Não pareço o que sou, nem sou o que pareço! ... Nunca ninguém me amordaçou, Nem autorizo o que não mereço! ... Não me calo, mas oiço atento, Com qualquer outro aprendendo, À espera do melhor momento E do qual não me arrependo. Não sou, o que tantos queriam ao jeito, Nem pareço, quem alguém se lembrou, Sou tudo, aquilo de que sou feito, Alguém que, de mim, nunca mudou... Estando melhor que ninguém, Talhado em mim e a meu adorno, Quem me odeia é outro alguém E com a doença de corno! Não pareço, –mas sou!–, quem gostariam de ser E que nunca a mim chegarão... Nem na hora de morrer, Por mais que queiram, não serão!...
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