O corpo dá de comer ao chão... Essa terra, que alimenta a raiz E, esta, dando comida ao tronco, Enquanto alimenta os ramos, Que, um dia, nos darão calor, Por muitas chamas de amor E tudo o que respeito lhe diz; Eis-me a pensar nesta evolução, Em quanto se recebe de troco E sem que nos apercebamos... Este Universo, que nos dá tudo, No pouco, ou nada, que damos, Impertinente ser, surdo e mudo, Num desenvolvimento de danos... Oferece-nos o pó de que nascemos, Limpa-nos os ossos, quando partimos, Comendo a carne que oferecemos, Aquando nos despedimos, ... Processo, este e tão evolutivo, Desde essa nata hora e decisivo. De filhos pródigos, que somos, À terra mãe regressamos... Nascemos, crescemos, neste andar, Amamos, sorrimos e sofremos, Nas guerras, em que vivemos, Em quantas ganâncias construídas E riquezas, tão mal distribuídas, Lutas, na maioria, sem proveito, Neste nosso estúpido conceito E até que a hora chegar...
Vou dedicar-me à tourada E tourear, mano a mano... Por detrás, virão as bestas, Ao contrário de outra pega. O massacrado serei eu, Pelo campo da arena, Nesta ideia que me deu, Numa bebedeira serena E seguidas horas de pandega... Bem distintas, estas festas, Feitas de garraiada, Com sangue, limpo ao pano, Expelido deste meu ser, A cornadas de tais toiros, Misturadas com os coiros, Que se revezam com prazer... E sou eu, o toureado, Filho do povo e desgraçado, Cheio de farpas no lombo, Sem saber pra que lado tombo... Tais bois, filhos de vacas, Negoceiam essas farpas, Que me enterram no corpo, Já embrulhado num trapo! São tradições, que vêm de longe E das quais ninguém lhes foge...
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Eu tenho um sonho... de muitos sonhos!... Que os animais nos venham comer à mão, Sem medos, ou quaisquer restrições, Que não existam homens, ou mulheres, Mas e simplesmente, seres humanos... E que deixem de existir pretos e brancos, À existência de pretos, brancos, mestiços... E não exista farinha da mesma moagem, Socialismos, ou pensamentos de direita, Nem tampouco exaltações de esquerda, Em que cada os seus interesses espreita E rebolando-se por semelhante merda, Mas e por direito, unicamente direitos!... Que deixe de haver pessoas com fome, Que cada criança sonhe e se sinta feliz, Sem medo às sinceras palavras que diz, Ou, na sua inocência, enquanto dorme E enroscada no seu quente e conforto, Num direito a nascer e não ao aborto E brinquem, dancem, pulem, como aves, Sem nunca perceber o que são chaves... Que se destruam quantas as armas E se construam os melhores hospitais, Escolas, centros de idosos e tanto mais... Dobre-se as mangas até aos cotovelos! Que se deixem de proferir só palavras, Promessas, por discursos de embalar E se deitem mãos a necessárias acções... Que dês o que mais souberes e puderes, Em imparcial e terna compreensão, Escrevendo, pela história, os feitos E apagando os até agora defeitos, Ou que demais sejam contrafeitos... Que esperança sejam quantos pesadelos! Tenho todos estes sonhos e mais ilusões, Sentindo-me livre e no direito de sonhar, Nestas minhas, talvez líricas, simulações, Ao tempo e enquanto por cá andar... E tu, será que tens a mesma coragem, Ou nasceste só com o intuito de chatear? ... Caso existas somente para perturbar, Confesso chegada a hora de te acordar!... Parte, leva contigo a frieza e arrogância, A tua culpa deste mundo, tal indecência...
Fui auto-estrada e esperança, Estrada de decididas vontades, Parque de quanta lembrança, Caminho de muitas saudades, Trilho de muitos trambolhões, Qual via de maiores confusões, Ponte para diversas margens, Carro de desastres medonhos, Cacilheiro de perdidas viagens Avião de alguns belos sonhos, Escada de algumas escaladas, Pedestre de vidas animadas... Sonhei, um dia, ser a avenida, O desembocar de célebre rua, Mas fiquei-me pelas travessas E penumbra da luz, nua e crua, Com a vida sempre às avessas E imperfeita missão cumprida... Então, pensei ser uma rotunda, Mas perdi-me em tantas voltas, Pela confusão de andar à roda E sem rumo certo a que deva ir, Demasiadas voltas e sem partir, Como se preso a alguma corda E dessa qual não mais te soltas... Andas em redor e nunca largas, Nesse círculo, de vidas amargas, Numa análise e tanto profunda, Sem se tomar qualquer decisão, Prisioneiro de sinistra confusão. Farto de ser o beco e sem saída, Solto tal já pouca alma erguida, Num passeio de meus passeios... Esses sim, são os meus anseios! Todos me calcam pela calçada, ... Vidas e qual a mais cansada! Sou burro, com carroça, a fugir, Cavalo manco e numa corrida, Gaivota sobre o mar e ferida, Campo de trigo bem doirado, Vermelho de papoilas a florir, Linho, pisado, pra ser dobado, Mero pássaro em debandada, Nascente correndo para o rio, Turva água alcançando o mar, Palhaço de circo e que não rio, Chuva caída num qual deserto, Amigo longínquo e aqui perto, Arma, que se recusa a disparar, Em dia que se nega a acordar... Sou tudo isto e não mais nada E já sem tempo para alcançar...
Esta madrugada, vou trabalhar no lixo, Pegar num camião e pôr-me à estrada, Varrendo quanta escumalha encontrar, Horas e horas, seguidas, sempre a eito, Mesmo que cansado e me doa o peito E, quantos mais encontrar, irei convidar, Para que me ajudem, por esta jornada, Por becos, cantos, em nada ao desleixo... Há que limpar os restos de certo vento, Palavras e escritas, à solta, do convento, Que descambaram na rua, profetizadas, Num óptimo tom e melhor temperadas, Cheias de promessas e inúteis intenções, Pois que nada mais de que tal passaram, Pelo que conhecemos, nas piores razões, Mas que para o engodo nos convidaram... Irei varrer as escadas, para não tropeçar, Na merda, de quem, no decorrer, entrar, Mesmo não importando ao que vai fazer, Pois que, de fora fica, quem se irá foder... Finda a jorna, irei despejá-los no aterro, A única terra que os recebe por enterro!