São palavras, simples palavras, que me desencontram o pensamento, Que me revoltam, desesperam, regam tristezas, agonias e tormento E me secam as entranhas, tanto a loucura que observo à minha volta, Derramada inconsciência e estupidez, arrogância, avidez e tão à solta.
São palavras, talvez que sem sentido, ou perdidas na incompreensão, De quantos pensam e dormem, em que tudo lhes é fácil, vindo à mão, Não entendendo o quanto desespero, fome, se movimenta em redor, Numa tamanha ilusão, hipocrisia, sonolência, tal incompreendida dor.
Mas o mundo roda e roda, cada qual no seu roteiro e demais obsessão, Esquecendo quem não os consegue acompanhar, famintos e aleijados, Talvez que não bafejados pela sorte, ou por trabalhos tanto desejados...
Ou que demasiado honestos, frontais e orgulhosos e sem qual soberba, Por ensinamentos, doutrinais, ou não, mas que os levaram a qual verba, Que e tão simplesmente, os deixaram perdidos, à miséria e sem solução!
Viriato Teles OPINIÕES MAIS RECENTES O «acordo» que ninguém quer O «acordo ortográfico» é como aqueles bêbedos chatos que aparecem sem ser convidados: entra, instala-se e não pára de incomodar; mas – por piedade, temor ou excesso de civilidade – ninguém se atreve a pô-lo na rua.
Ah, como gosto de acariciar o teu corpo!... Deslizar minha mão, para a frente e para trás, Enquanto deitada sobre mim, Agradecendo aquilo que me dás, Qual essência da planta de jasmim... Como necessito dessas tuas lambidelas, De te ver, em horizontal posição, ronronar, A meia-luz e fechar de janelas E enquanto te contorces, Feita perdida e num enroscar, Nessas seguidas e adoráveis poses, doces... Como vibro ver-te erguer, qual suricata, Contorcida, minha companheira, Meu ópio, minha sonante bebedeira, Minha agradecida, meu amor, Agradecendo, simplesmente, o calor, De um modesto, mas confortável trapo, Desta minha, nossa cama... minha gata!...
Mudam-se os tempos e as vontades: Camões, deixará de o ser, quem sabe!... Bocage, terá sido um mero desbocado, Possivelmente um servidor de Satanás!... Fernando Pessoa, esse mestre e a obra, Passará, findos tantos idolatrados anos, A enfrentar qual acusação de pedofilia... Tais os ridículos exames que lhes fazem! ... E enquanto os invejosos não reagem! Por estes caminhos e tão fraca cortesia, Sobrevivem fulanos, sicranos e beltranos, Mergulhando em piscinas de sacanice, Rodeados de águas turvas e imundice, Cujos, neste país, são o que mais sobra... Doa-se o pódio a tão protegido Barrabás, Escorraçando um qualquer mais acossado, Porque a tal e no tempo, já nada cabe, Por hipócrita gente e nascentes vermes! Ah, mas se fossem só tais os perseguidos!... Serão quantos mais, os demais vencidos, Ao obscurantismo e silêncio, vendidos, Que, aos tempos e por mal-agradecidos, Substituídos serão, em irrisórias estátuas, Nomes, em placas, pelas ruas de alcatrão E que, quando questionarem, quem são, Ninguém saberá, senão passadas águas!... Por estes dias, são cobardes manifestos, À luz de quantos idiotas e malformados, De grupos mesquinhos e tanto nefastos, Pensamentos travessos e infundados, Por quantos doutores, seres iluminados E de candeias às avessas aos aclamados!... Pois, que se abram as portas de Olimpo, Se oiçam trompetes e cítaras, em poesia E que todos os mestres sejam a melodia, Águas correntes e cristalinas, leito limpo, Deslisando para o mar, por entre montes E que censuradas obras sejam mil fontes!... Que Camões, Bocage, Pessoa e os outros, Sejam a imaculada sombra de uns loucos!
Verdes, são os tempos que por mim passaram E maduros, todos aqueles que, por mim, virão, Não deixando de lado o quanto me ensinaram, Mas e que, num futuro, nunca sirvam de refrão...
Doirados, todos os momentos de maior prazer, Mesmo que diluídos em percalços e ingratidão, Feitos de pedaços de sol e em cada amanhecer, Ou de noite escura e qualquer banco de solidão.
Claros, os dias de tempestade e a cada levantar, Na esperança de melhor dia e que há-de passar, Aprendendo nos erros que houve que aprender.
Escuros, serão quantos que não haja volta a dar E que me torturem o sono, noite e dia, a pensar, Que se deitem a meu lado e até ao amanhecer...
Chamam-me as montanhas, na distância, Através dos ventos, em que me vêm falar, Dando-me ensinamentos, na ignorância, De outros mundos, que anseio encontrar.
Sopram-me as brisas e gélidas, de Norte, Correndo sobre frágeis copas de árvores, Sacudidas intempéries e sinais de morte E sem qual vontade de melhores valores...
Ora me falam grosseiras, ora sussurram, Nalguns presságios e de tão mau agoiro, Que me fazem tremer, enquanto duram...
São gelo, acutilantes palavras e desafio, Machados de guerra, enchendo de oiro Os que calam quem medo tem dum pio.
Sei que é meu problema E ninguém a ver com tal, Mas declaro o meu dilema, Que, mesmo sendo banal, É um alívio, se o confessar: Ando com duas e a montar!... A primeira, é soberba italiana E a segunda, delírio do Japão! ... Que fazer, se uma é mundana E a outra me desfaz o coração?... Monto-as, sempre à vez, Esquecendo os seus ciúmes, Se perguntam o que a outra fez E se ficam de azedumes. São belas, loucas e irrequietas, Pulsantes, quanto basta, Fazendo coisas patetas, Aquilo que não me afasta... Uma, é negra, cor de azeitona, A outra, cores claras, brilhantes E muito mais rezingona, Uma, da outra, tão distantes, Que me causam confusão, Nesta tamanha paixão!... Ando com uma e com outra, Consoante me dá jeito, Mas com ambas no meu peito... Se as visse numa montra, Confesso, seria impossível Escolher o inadmissível!... São formosura, o delírio, Talvez que o meu martírio, Parte da minha loucura E que há muito tempo dura, Mas são a minha absolvição, O meu prazer, a minha perdição!... São amores inexplicáveis E que só alguns compreendem, Mútua sedução, jogos incontroláveis E ao que amantes se rendem! ... Frescura, vento afagando o rosto, Liberdade, nascer-do-sol e sol-posto, Adrenalina, sangue quente nas veias, Acelerar da pulsação, Aumento de respiração E quantas vezes apneias... É vida, buscando a morte, Correndo em horas de sorte! ... É este o poder das motas, Que não entendem as almas mortas!
Correm, esvoaçam, saltam e saltitam, Como bailarinos, em seu palco de dança, Frenéticos, de um lado para o outro, Alguns vindo ao meu encontro, Contentes e aguerridos, Pobres de quaisquer maldades, Neste contemplar e meu troco... Cantam, piam e chilreiam, Mostram-se por detrás da ribalta, Em melodias que semeiam E que demais nos fazem falta, Neste mundo e demais oco, Sendo que nenhum deles é rouco, Enquanto eu feito de louco; Mas há outros espectadores, Encantados nestes cantos, Gatos, de coração aos saltos E olhando estes amores: Arlequins de profissão, Saltando por entre a relva, Que mais parece uma selva E que tocam ao coração... São um tanto coloridos, Dádiva de um qualquer deus E senhor de tamanha obra, Que em troca nada cobram, Deste espectáculo que obram E que, por muito, nunca sobra. Entregam-se às suas artes, Numa sinfonia e sem fim, Digna de requisitadas salas E composta para mim... Empoleiram-se por galhos seus, Como se fazendo as malas... E eis que partem os artistas, Tais sopranos e flautistas, Um, ou outro, mais modesto, Sendo a nota que atesto... E eu aqui sentado, Um tanto, ou quanto, cansado E pouco mais para dar, Numa pedra do meu quintal, Sendo poucos os que ficam, Nesse tão majestoso voar, Para longe da vista, muito além... Para trás deixando saudades E, para a frente, maior esperança, A quem de mim e mais alguém, Por este mundo esquisito, Vão ficando, feitos mártires E eles nas alturas do infinito, Em despedido voo celestial...