Sinto o cheiro dessa onírica paisagem!... Liberte-me, o campo, dessa saudade, Entregando-me tamanha essa imagem E levando-me para longe da cidade.
Quero, de novo, sentir a luz da planície, Ouvir e ver, o reboliço da passarada, Sonhar, ao pôr-do-sol e que se inicie, Enquanto me sobrevoam em debandada.
Observar aquele deslizar do riacho, Em águas, como se lágrimas se tratassem, No melodioso relinchar de um macho.
Passear, por entre a chuva que vai caindo, Como se todas essas gotas me falassem, Mergulhando em qual Verão que me foi findo.
Vamos deixar-nos de histórias e desculpas, e chamemos os bois pelos nomes: os portugueses são uns cobardes! Arranjam sempre desculpas para qualquer problema que exista: se chove, é porque chove, se faz sol, é porque faz sol e assim sucessivamente... Choram no silêncio do conforto, nunca pensando por sua própria cabeça, mas por defesa deste, ou daquele partido, ou sindicato e nunca aprendendo com os erros. Têm memória bastante curta: veja-se o caso dos incêndios, Borba, corrupções, trafulhices bancárias, parlamentares e partidárias, situações caricatas e desonestas, passadas por este país fora, transversalmente, mas continuamos, calmos, – para não dizer parvos! – e serenos, como se estivesse tudo bem e sem que a justiça se manifeste a tempo e horas, para que tudo seja esquecido... São sempre, – repito: sempre! –, os mesmos a pagar as dívidas do país, os impostos, a roubalheira e seja ela qual for, desde que seja dos banqueiros, ou outros que tais, em que os políticos e maiores trafulhas, se protegem, enquanto nós apoiamos,– sim, apoiamos! –, pois que nada fazemos para que se alterem estas realidades. Seja, qualquer que seja, a tentativa de manifestação de descontentamento, aparece, logo e de imediato, alguém a dizer que são organizações de Direita, ou de Esquerda, mas sem nunca fundamentar essa afirmação e sem qualquer tipo de provas; o que interessa é defender a dama, seja ela qual for, enquanto os grupos políticos se vão continuando a rir, nas nossas costas, pois que a calmaria é o que mais lhes interessa, vindo a público afirmar que e assim, é que vivemos num Estado de Direito e Democrático, como se as revoltas e protestos, não fizessem parte desse valor da Democracia e, assim, deixando espaço de manobra para que façam o que melhor entenderem e em seu belo proveito. Os ricos e poderosos, conhecedores das leis que foram manipulando, com compadrios e portas abertas na lei, que eles e outros que tais, bastante bem construíram, através dos tempos, escapam-se, sem que nada seja feito e aos nossos olhos, mas, segundo o pensamento popular, está tudo bem neste país... a saúde, a educação, a protecção social e a tal justiça, o equilíbrio de Impostos e impostos por este, ou aquele Governo e ao longo do tempo, interessando que o povo esteja adormecido e drogado, com as mais diversas conversas e promessas da treta... Quando algo se organiza, até mesmo isso não é devidamente concreto: nunca se sabe quais as verdadeiras causas e objectivos, o que está por detrás das reivindicações, ou quem as organiza, dando portas abertas à dúvida, ao mesmo tempo que se constroem argumentos partidários e patéticos à sua volta. Com tudo isto e meu desabafo, mais uma vez afirmo e bem alto, que esta Pátria nunca há-de passar da ignorância, obscurantismo e fazendo parte de uma civilização atrasada em conceitos e direitos, numa soberba falta de mentalidade. Lamento, mas somos um país de atrofiados mentais, acomodados, numa falta de jeito para as questões essenciais da sociedade, pessoais e colectivos, dando, de mão beijada, todo o caminho a uma classe partidária e que vive à nossa conta, engordando e cada vez mais, enquanto vamos emagrecendo até ao osso que nos restar... VIVA PORTUGAL!!!
Pouco, quase nada, tenho contra ti, Portugal De Ribeiro, "este jardim à beira-mar plantado", Que de todos e muitos, poucos te são igual, Mas sou contra quem tão mal te tem tratado.
Contra gentes que te aceitam, na imposição De quantos te governam e sempre tão mal, Na serenidade, paz, longe de qual rebelião, Num tão tortuoso e obscuro destino letal.
Mas ai de quem os afronte, ou ouse criticar, Pois que, na sua arrogância, são os maiores; Sem governo, alimentam-se no seu governar.
E tu, dos que me cria náuseas, repúdio fatal, Tu és a engrenagem, a culpa de tais horrores, De todo esse mal-estar... Pobre de ti, Portugal!
Temos uma política de fachada, Com uns políticos perversos, Como, num charco, uma pedrada, Ou falta de rima nos versos... Iludimo-nos com promessas, A quantos charlatões de feiras, Ponde-nos a cabeça às avessas, Com falta de pão nas eiras... Puta que os pariu a todos, Que estou farto de conversas, Palavras que enganam tolos, Por esquinas e travessas... São todos a mesma merda E já não havendo esperança, Desde a Direita, à Esquerda, São todos pra encher a pança... Que se ergam forcas nas praças, Para que seja feita justiça, Aniquilando tais raças, Despertando da preguiça... Ergam-se as armas em punho, Apontando bem ao alvo E que sejam o testemunho De quem quer que seja salvo... Cante-se, de novo, "A Portuguesa", Pelas estradas deste mundo, Vibre-se com "A Marselhesa", Contra este grupo imundo... Contra os canhões, marchar, Que a glória é chegada E que se morra num lutar, Mas não faminto na estrada... Parasitas, sanguessugas, proxenetas, Que nem a política os merece, Bastando olhar para as facetas, Com que cada nos adormece... Às armas, netos de egrégios avós, Glorifiquem a descendência, Cada vez mais, não estão sós, Revoltados, nesta indecência... Livrem-se de tais parasitas, Pisem-nos, com a ponta das botas, Deixem-se das suas fitas, Palhaços de cambalhotas... Avancem, de frente e à luta, Não deixem que vos adormeçam, Não deixem, que os filhos da puta, À vossa conta enriqueçam...
Que não haja dúvida e se essa a houver, A quanto este mundo estará condenado E que o dito dia chegará, a ferro e fogo, Como final resolução do encomendado... Chegará o aberto e mais que final jogo, De quantas cartas escondidas na manga, O rematar de qual mais perversa tanga E a que nos iludiram em tais promessas... As estradas ruirão em lume de revoltas E as candeias andarão tanto às avessas, As armas entoarão por quantas portas, Que e demais, serão os desejos de luta, Ávidos de enforcar tantos filhos da puta, Para um outro novo mundo amanhecer... Que breve se afastem quaisquer dúvidas, Por tantos e dolorosos dos desconfortos, Em que a solução serão as duras batalhas, Banindo da terra esses e demais abortos... Quer sejam coletes amarelos, ou outros, Mesmo que vermelhos, já cor do sangue, Havendo a reconhecer o quão de duros, Heróis de uma causa, por mais que justa, Alertando quantos comem à nossa custa E, assim, que para os demais nada fique. O tempo final da vingança será chegado, Dure, tal, quanto tempo que mais durar E este escárnio, este jugo, será vingado, Ande, este calmo vulgo, por onde andar... Que ferva o rubro plasma e por audácia E se levantem os punhos da discordância!
Não chores, minha gaivota branca E continua esse teu voo, sobre o mar, Com o olhar prisioneiro da distância, Nas profundas cores do arco-íris E na consolável força da esperança. Rasa as águas, que te viram nascer, Sobre as quais aprendeste a voar, Aterrando ao longo de areias, teu porto E que, no seu calor, te deram conforto... Gaivota, mostra-me a tua envergadura E faz-me sonhar... Deixa-me partir contigo, Feito caravela, marinheiro, teu amigo E quem, um dia, há-de voltar, No embalo de uma lembrança... Deixa que seja esse teu olhar, a tua íris, A restante luz e antes do escurecer, O teu vento, o mar e sua fragrância, A divina e bem compassada dança, No imenso palco de espuma salgada, O mastro e teu par, que contigo balança, Na suave melodia de uma onda chegada, O doce descanso, nesta vida e tão dura, O abrir de uma porta, no cair da tranca... Confessa-me o segredo da tua liberdade E conta-me histórias de saudade...