Ventos... que sopram e uivam! Ventos que sacodem e levam, Como oco esqueleto franzino, Sem compaixão, nos enrolam, Como trapos, sem um destino E abrigo daqueles que choram... São ventos, frios como lâminas, Entrando na pele, como sabres E barbeiros, de tão acutilantes, Severas esponjas de lágrimas... Ventos de tantas tempestades E obra de qualquer um de nós, Trocas de mentiras e verdades, Tão reflectidas aquando a sós. Ventos, não de Sul, nem Norte, Mas que varrem tudo e a eito, Levando o que resta no peito, Sem questionar a nossa sorte. Ventos que movem tramelas, Rapinando tudo e até a alma, Levando dinheiro, as panelas, Nada deixam, nalguma calma, Sapatos, roupas e a dignidade, Os tachos onde fazias a açorda, Deixando uns metros de corda, Para que lhes faças a vontade... São os ventos que nos fustigam E por tais portas que entraram!
Águas que pingam, águas que correm... Ai, estas águas de mentes poluídas! Estendem-se pelo solo, bem horizontal, Para que lhes possam passar por cima. Qualquer um destes dias, morrem E já sem que forças sentidas, Desfalecendo aqui, ou mais acima, Pouco importando, quando tudo já é igual. São águas, simplesmente envenenadas, Tantas as fossas e línguas contaminadas... Fedem, estas, nos arrotos que vão dando, Nas promessas e peidos, que vão soprando... Regurgitam as fezes que comem, uns dos outros, Num refogado de louros e ensopados. Pobre daquele, não passando de um desgraçado, Povo, já sem voz e sempre mal-amado E que come nos restos das intrigas, disfarçadas, No passar dos dias e horas amarguradas... Pingam as águas, engordando rios canalizados, Enchendo mares, açudes e demais estancados... Soltem-se as águas, deixem-se fluir as represas, Os direitos e pensamentos, as mentes presas E chapinhem, gritem, saltem, como crianças, Brincando de alegria, por parques de abastanças. Águas que pingam, em tempestades que chovem, Matando os parasitas, lavando pedras que movem...