Liberdade, é a consciência de qualquer ser, Viajante do universo, em luta neste mundo E não de quem mais tenha e no que quiser, A que uns estão no cimo e outros no fundo. Liberdade, é viver os minutos de passagem E esquecendo os que poderão nunca chegar, Os que nos abordam e enquanto de viagem E galopar do tempo, sem ordem para voltar. Liberdade, é ser corcel em corrida ao vento, Sem rédeas, ou sela, relinchando de prazer, Usufruindo da estepe e fogoso ao momento, Esquecendo tudo o que demais haja a fazer. Liberdade, é escutar qual serenata da chuva, Ver o nascer do Sol, ou as cores do sol-nado Explodir ao mundo, como alcateia que uiva, Estender-se na areia, sem olhar para o lado. Liberdade, é o deslizar ao longo do asfalto, Sem destino e sem horas, ou pelos montes, Observando em seu redor, em tal encanto, Agradecendo o quanto divino são as fontes. Liberdade, é ser aquilo que nunca ousámos, Libertando-nos das amarras e preconceitos, Percebendo que a vida é o que merecemos, Não o que nos ousam impor e por defeitos. Liberdade, é a absolvição dos estereótipos E julgamentos, quantas vezes por injúrias, Azias das mesquinhices e a seus conceitos, Na inveja que não bebamos suas lamúrias. Liberdade, é existir no direito ao trabalho, É não suarmos à preocupação com a fome, Sentirmos, no corpo, o merecido agasalho E na certeza onde cada um à noite dorme. Liberdade, é sentir o valor da segurança, Quando pisamos a rua por qualquer razão, Nunca ficarmos presos na pior lembrança Dum perverso político e distinto charlatão. Liberdade, é usufruir o direito à educação, No acreditar ao qual e a mim semelhante, Na justiça, como qualquer demais cidadão E independente de raça e seu semblante. Liberdade, finda onde inicia a dos outros E por muito que não interesse entender, Pois que todos terão os mesmos direitos, Mas, à arrogância, não querem perceber. Liberdade, liberdade, a eterna liberdade!... Incontestável, fogosa, sustento de razões, Quantas as vezes saída da tranquilidade, De algum repicar e tais nobres corações.
Eis-me, para aqui sentado, Olhando a relva, divagando, Mirando ao alto e cismando, De onde virá qualquer recado... Sentado baixo, num estrado, Já pouco me parece estranho, Salvo o pensamento que entranho, De quem, mais que eu, desgraçado... Procura-me este animal, num roçar, Em busca de qualquer carinho, – Ou de algo para a barriga! –, Pois que este não é seu ninho, Nem horas de cumprimentar... Desconfia de outro e de briga. Sigo, no olhar, alguns pássaros, Que já me reconhecem ao longe, Descendo a visão dos telhados, Neste lobo, feito monge... Eis-me reflectindo na vida, Do quanto que não pedi E abre-se, cá dentro, uma ferida, Por tanto que eu perdi... Percorro as nuvens, que vão chegando, Meio brancas, meio cinzentas, Sinto as gotas que vão molhando, Caindo suave e lentas, Refrescando meus pensamentos, Mergulhados nestes momentos...
Ah, como gostava de ser promovido! ... Deixar de ser um zé-ninguém, Umas vezes com algum dinheiro, Outras mais sem um vintém... Mas será difícil, senão impossível, Para quem é verdadeiro. Nada tenho de arrependido, Do percurso que desenhei, Foi, para mim, o desejável, Mesmo no que não alcancei... E tu, terás feito semelhante, Ou, simplesmente, um errante? ... Talvez seja essa a diferença, De tão maquiavélica doença! Felizmente, fui vacinado à nascença E tal maleita não me alcança...
Um homem, talvez seco, Como o pão que o viu nascer, Na deliciosa manteiga Que o viu partir... Em tanto valor intrínseco E momentos de sorrir, Como poderá alguém morrer E o mundo ficar-te cego?... Inveja, – isso sim! –, à tua obra, Essa tão terrível maleita, Alimento de tamanha seita E presunção de ego, Em cenas de carpideira. Nessa alcunha de nome, Símbolo de quanta fome, Do teu tempo foste fartura E orgulho que nos aconchega, Por caminhos que percorreste E louros que mereceste, Por tempos de quanta dura...
Água, divino nascer das fontes, Que te lanças do alto dos céus, Caindo na terra e te soltas, Por campos e vales, que não só meus, Lavando as pedras, os montes, Te aguentas às piores afrontas, Limpas os rios, enches os mares, Sem te negares aos olhares E me acaricias o rosto, Ou me acalmas o corpo, Me irrigas as fracas veias, Que tanto lavas qualquer trapo, Como lágrimas de qual desgosto... E sujas-te, limpando tudo e todos, Enquanto ficas doente, aos poucos... Acaricias as nossas feridas, Dás alento a sementeiras, Baptizas a seiva das videiras, Sacias, pelo mundo, plantas e animais, Banhas os pássaros de jardins e quintais E apagas o pó dos campos, Afogando outros, em prantos. És banho, nos dias quentes de verão, Alimentas sonhos e desilusão, Por viagens de alto-mar, Ou faina de quem pescar... És sossego da minha sede, Relaxo de meus pés dormentes, Processo que a aduela vede, Água benta de quantos crentes. És o mais concreto da vida, No chegar e na partida, Mas tão cruel maltratada... És tudo, no meio do nada! Água, que és meu corpo, nestes ossos, Na minha carne, feita gente, Neste mundo de poluentes E em águas dos meus olhos, Tornados, por ti, em nascentes, Salvar-te, é mais que urgente!...
Escancarem-se as portas deste mundo, Neste frio e que nos gela as entranhas... Deus dos crentes, como posso ficar mudo, Se não nos salvaguardas a tantas manhas?... Teus filhos, – se ainda o são! –, estão loucos, Perdidos, pelo quanto fazem, Por rotas do egoísmo e tanto moucos, Espelhados de virtual imagem. Justificam-se os fins e ninguém se conhece, Pelos meios em que nada importa, Salva-se quem puder, não quem merece E ficando de fora, no bater da porta, Homem, mulher, criança, ou velho, Preto, branco, vermelho, amarelo, Tenha mansão, ou viva sem telho, Não interessando ser, mas parecendo sê-lo... Ai, estas malditas correntes de ar, Que e demais, já nos sufocam E que, por este maldito andar, Balançam a corda, com a qual nos enforcam... Proxenetas, políticos, astuciosos parasitas, Prostitutas e exploradores de prémios, Estendendo armadilhas, em caças malditas E declarados membros dos mesmos grémios... Advogados, juízes, armados de bem, Fazem-se em fila e de garras afiadas, Desmembrando tudo e quem algo tem, Espalhando sangue nas suas dentadas... Cerrem-se as portas aos ventos que sopram E deixem que sigam a sua onda, de mansinho, Mas não se temam, ou se calem, ao que falam, Por mais que gerido e tenebroso, tal caminho.